Por Eduardo Fernandes.
Muita gente reclama que a Internet está cada vez mais negativa, que não consegue encontrar nada de “diferente” nela, que estamos condenados a acompanhar os mesmos assuntos, nas mesmas plataformas.
Mas é só procurar um pouco e você encontrará uma quantidade absurda de experimentos, de conteúdo voltado para nichos, de aplicativos alternativos e de propostas editoriais destoantes das bolhas extremistas que dominam parte da web.
Onde buscar essas coisas? Como sair da repetição compulsiva do consumo de informação?
Para responder a essas questões, não basta buscar o próximo hype da curadoria ou a próxima tecnologia disruptiva. É preciso investigar os 4 mitos fundadores da web 2.0, das redes sociais e da distribuição industrial, algorítmica, das Big Tech.
Vamos lá. Publicar conteúdo usando aplicativos como Facebook, Tiktok, YouTube, Instagram, Twitter etc é…
1. Conveniente #
Só se você ignora anúncios, formatações rígidas, limites de caracteres, “clique no sininho”, conteúdo censurado por erros algorítmicos, ou ambientes tóxicos e otimizados para conflitos.
2. Barato #
Não existe hospedagem gratuita. Existe externalização de custos.
Os usuários pagam com seus dados, expondo seu público a práticas viciantes promovidas por empresas de tecnologia que vivem sendo acusadas de estar envolvidas em monopólios, sonegação de impostos, financiamento de campanhas políticas, lobbies etc.
Ou seja: o que você economiza com hospedagem, acaba pagando em impostos ou tendo que lidar com outros problemas na sociedade.
3. Melhor para encontrar “seu” público #
Raramente alguém consegue criar algo pessoal e alternativo nesses ambientes. É bem mais comum que o criador tenha que gastar tempo se adaptando a listas de “best practices” para domar algoritmos e políticas institucionais.
De modo geral, o criador luta para não ser prejudicado pela plataforma. E não é particularmente ajudado por ela. Ou seja: você não encontra “seu” público, você é que se transforma em outro criador.
4. Melhor para criar uma comunidade #
O que, afinal, é uma comunidade? Números crescentes de seguidores? A sensação de que se está vencendo num jogo de crescimento, atingindo métricas estatísticas aleatórias?
Além dos robôs, que inflam os números em redes sociais, os ambientes algorítmicos também facilitam o surgimento dos “robôs humanos”. Quer dizer, os seguidores passivos, que nunca interagem, que nem mesmo lêem seu conteúdo – apenas colecionam notificações.
Em vez de comunidades, o que se cria aqui são custos para o planeta: dados circulando em servidores que consomem eletricidade e jogam carbono na atmosfera. No limite, isso ajuda a destruir outros tipos de comunidades, literalmente mais orgânicas.
Sem falar nos seguidores que apenas escaneiam títulos e compartilham ou criticam ideias antes mesmo de conhecê-las. Tudo isso é custo: de tempo, de energia, de saúde mental.
"Eu te odeio mas eu não te largo".
Tirando a solidez #
Quando percebemos que a web 2.0 não é tão sólida, inevitável e necessária, podemos começar a buscar comportamentos alternativos, novas rotinas de produção, compartilhamento e consumo. Mas isso é assunto para os próximos textos.
Primeiro, podemos começar um movimento de transição, usando as redes sociais para um fim bastante específico: divulgar conteúdo que publicamos originalmente em nossos próprios sites.
Há pouco tempo, Elon Musk disse que queria excluir os robôs do Twitter. De que adiantaria, se os humanos continuassem a agir como robôs dentro da plataforma? Talvez, seja preciso fazer o exato contrário: deixar os robôs povoarem as redes sociais. Mas robôs que nós mesmos controlamos, a partir dos nossos sites.
Bonus: princípios da IndieWeb (em Inglês).
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