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A linhagem do dinheiro

Por Eduardo Fernandes.

Bom dia.

Uma das coisas que mais mudou na minha cabeça depois que virei budista foi minha visão sobre tradição. Ou melhor, algo que chamamos de linhagem.

É um assunto muito complexo. O que tenho capacidade de dividir aqui é o seguinte: todos nós somos interconectados. Você lê estas palavras porque alguém lhe educou, outro pagou por isso, e outra pessoa educou seu professor etc etc. etc.

Essa lógica permeia todas as nossas relações até os mínimos detalhes. É tão comum, que se torna invisível.

Por isso, a ideia de lembrar da linhagem funciona como uma espécie de celebração, apreciação e reconexão contínua com todo esforço, generosidade e complexidade que trabalhou em conjunto pra você poder ser o que é e fazer o que faz. A ideia de linhagem incita perspectiva, confiança e humildade.

Você está na linhagem daquele seu primeiro professor, do qual talvez nem sequer se lembre do nome. Faz parte de uma "mandala", uma interdependência dinâmica entre seres, contextos, ideias e narrativas, que se desenvolveram ao longo dos anos.

Não há o sentimento de desconexão, de automatismo, de cada um por si. Até a formiga no chão tem algum tipo de influência na sua vida. Você não está "desbravando o mato" sozinho, inovando, escrevendo um monólogo pra humanidade.

Muita gente só vai perceber essas coisas quando está sob efeito de psicodélicos, porque eles "confundem" (durante algum tempo) a mente habituada às narrativas materialistas – por assim dizer.

Mas os budistas fazem dessa apreciação da linhagem algo sistemático e essencial pra qualquer prática. Tanto que ela é considerada tanto um fundamento quanto uma preliminar: é o começo de praticamente toda liturgia. Por vezes, até reaparece no final dos textos. Você aprecia as Três Joias: o professor (Buda), os ensinamentos (dharma) e a comunidade de praticantes (sangha).

A seguir, se lembra do motivo pelo qual está nessa viagem, porque vai passar algum tempo ali, sentado na almofada (ou algo assim): pra, descondicionando suas paranóias e autocentramento, ser capaz de oferecer algo de volta pra sua família planetária (pra simplificar aqui).

Enfim, não sou professor de budismo. Mas essa conversa me veio à mente ao ouvir mais um discurso sobre "inovação". Talvez em relação ao pânico no mercado financeiro, que aconteceu na semana passada.

Imagine esse cenário absurdo: antes de agir, em ambos os lados, tanto os usuários do aplicativo Robinhood quanto os profissionais do mercado financeiro, param e reservam uns minutos pra lembrar das suas linhagens e comunidades.

Será que isso seria o suficiente pra "nublar" o hábito da desconexão mental e do automatismo egoísta no cotidiano? Não sei.

Ou será que pioraria a situação? "Sou da linhagem do George Soros", até o destruidor primordial. O que, com a memória estranha da nossa época, talvez fosse parar em Thanos.

Enfim. Eu sei. Eu sei. Estou sendo ingênuo. Mas agora já foi. Voltamos à programação normal.


Veganices #


Os 10 mais abandonados #

A rádio WFMU promove uma brincadeira interessante entre os seus ouvintes: compartilhar qual é o disco que compraram há mais tempo, mas nunca se deram ao trabalho de ouvir. Uou… Eu não saberia dizer rapidamente.

Mas é possível expandir a ideia: descobrir quais são os produtos culturais que "mofam" a mais tempo nas nossas prateleiras virtuais. Os 10 mais abandonados. Os 15 mais procrastinados. Itens que salvamos ou compramos durante um desses shots de dopamina e que abandonamos depois.

Maxwell, o Gato Mágico, livro com as tiras do começo de carreira de Alan Moore, vêm à memória. Filmes do Jodorowski (quase terminei dois deles). Música de Moses Sumney – que tentei ouvir várias vezes e sempre parei: "hmm… Parece interessante. Mas depois eu ouço". Seis meses depois, repito a operação.


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De fontes seguras #


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