Por Eduardo Fernandes.
Parece que o Google foi condenado mais uma vez por ações monopolistas. Mas, não se preocupe, não vou te torturar com esse assunto. Só que, ao ler sobre ele, me surgiu outra pergunta: existe uma dimensão psicológica dos monopólios?
Explico.
Monopólio surge quando um único fornecedor controla um segmento de mercado. E tenta evitar que surjam alternativas ou escondê-las do consumidor.
É uma prática que precisa de ajustes contínuos, já que sempre está ameaçada por novas circunstâncias. Em sua essência, o monopólio revela o medo da diversidade e a crença ingênua na centralização.
Se isso existe num nível institucional, também existe no nível individual. Talvez a situação mais parecida seja a do Transtorno de Personalidade Histriônica. A pessoa que sofre disso tenta monopolizar atenção. O que pode se manifestar dos modos mais estranhos.
Exemplos:
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Da hora que acorda até pegar no sono, a pessoa não cala a boca,
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resmunga em voz alta o tempo todo,
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derruba coisas pela casa,
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faz barulhos com a louça, bate portas,
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invade o banheiro antes que você termine de usá-lo,
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come o alimento que você separou pro outro dia na geladeira,
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atrasa pra compromissos,
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fala sobre si o tempo todo,
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faz monólogos incessantes e detalhados sobre seus estados emocionais,
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conta histórias sem qualquer preocupação em ser entendido, apenas pra manter o interlocutor ouvindo por um longo tempo,
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corta os outros no meio de uma conversa,
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não tolera que outros sejam o centro da atenção por mais de alguns segundos,
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não respeita quando você quer ficar em silêncio (começa a tossir, derrubar coisas, etc.),
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quando anda em grupo, some sem avisar,
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bufa e emite sons de estresse, até que você interaja.
Entre muitas outras coisas.
Cito esses exemplos pra mostrar o quão sutis podem ser os comportamentos monopolistas individuais. Por um lado, há quem crie tensão e desconforto até que seja o centro das atenções. Por outro, há quem tente seduzir e cobrir o universo de conveniências, até que se sinta no controle.
Parece algo totalmente desconectado da versão institucional dos monopólios, mas não é. Há empresas que infernizam e/ou mimam o consumidor até cercá-lo por todos os lados.
Não é fácil lidar com hábitos monopolistas, nos dois níveis. Porque criamos vínculos emocionais tanto com empresas quanto com as pessoas dominadoras. E também temos medo da diversidade, da inconveniência e da aparente falta de controle. No fundo, todos cultuamos os monopólios.
No cotidiano, criamos alguns hacks pra lidar com pessoas monopolistas. Evitamos os lugares que elas frequentam (uma espécie de VPN orgânico), trocamos palavras pra não engatilhar comportamentos (filtros), agendamos tempo extra pra acomodar certos padrões de comportamento, etc. Tentamos entender que nem sempre o monopolista tem escolha. Muito menos coragem pra buscar tratamento.
Já no nível institucional, não temos tantos traquejos diários: nos jogamos no colo das empresas, que vão virando gigantes e restritivas. Então, recorremos a leis, ao governo, pra conter seu poder.
Enfim, o que eu queria dizer é o seguinte: monopólio é uma tendência progressiva. Começa quase invisível e vai se desenvolvendo em várias frentes paralelas. Quando você percebe, está emaranhado numa luta pra escapar dele.
Assim, é preciso inventar e praticar hábitos anti-monopolistas. Não esperar o problema ficar complexo demais.
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