Por Eduardo Fernandes.
Rayne Fisher-Quann é uma ativista canadense de 21 anos. Conhecida como “a princesa da Internet”, ela começou a aparecer na mídia em 2018. Foi quando liderou uma manifestação estudantil em Toronto, contra políticos locais, que queriam tirar a educação sexual do currículo das escolas.
Rayne dizia que, diariamente, as mulheres já são ensinadas a sentir medo, a pensar que não têm direito a controlar seus corpos e precisam aceitar submissão e repressão. Assim, em vez de retirar a educação sexual formal dos currículos, ela propõe algo que não apenas explique o ato sexual, mas também todo o contexto social e político em que ele está inserido.
Desde 2019, Rayne vem ganhando popularidade na Internet como uma das primeiras e mais importantes ensaístas da Geração Z. Em sua newsletter, ela combina textos confessionais, com críticas a como funciona a comunicação na nossa época.
A seguir, eu vou traduzir alguns trechos da última edição, para você ter uma ideia do que acontece por lá. Então, com vocês, a princesa da Internet.
Na Internet, existe uma normalização do não melhorar. Muito da cultura das mulheres falando sobre saúde mental revela uma cíclica e masturbatória satisfação em ver o quão ruim as coisas podem ficar. Eu ativamente resisti a essa mentalidade para mim mesma, porque, definitivamente, já tive esse impulso de chafurdar na minha própria dor. Mas não há nada interessante e nem radical nisso. Há quase essa ideia de que é antiliberal tirar qualquer alegria dos pequenos passos que damos — é como se precisássemos sempre nos arrastar até a reta final no meio de raiva, ofensa e ódio a si mesma. Mas é o seguinte: estar miserável é anti-revolucionário. Às vezes as pessoas acham que ficar triste ou raivosa é uma resposta política convincente em si mesma. Mas, no limite, isso de pensar que algo acontecendo inteiramente só na sua cabeça é útil politicamente, é um sintoma de isolamento e da individualização do capitalismo — se é que isso é algo político, afinal. Quer dizer, eu até acho que melhorar sua saúde mental e ficar mais feliz é uma resposta política útil. Mas porque isso extrapola a sua individualidade. Se você melhora, acaba que todos à sua volta também melhoram. Ainda assim, você lê todos esses tuítes de pessoas meio que sutilmente congratulando umas às outras do quão pessimistas elas são, roubando o tempo umas das outras porque são niilistas, geneticamente condenadas e resignadas com tudo isso. Pessimismo virou um substituto para o conhecimento. Mas radical é sair de casa e falar com outras pessoas. Soa ridículo, mas essas atividades são sutilmente revolucionárias. Miséria e isolamento são a antítese disso. E eu também não estou querendo dizer que você é uma pessoa ruim só porque está miserável. Mas a ideia de que o Estado não faz nada além de ativamente se beneficiar da sua desilusão e niilismo é uma fantasia.
Então essa foi Rayne Fisher-Quann. Provocativa, não é?
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