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Batedores de atenção

Batedores de atenção

Por Eduardo Fernandes.

Maria Popova, a blogueira púcaro búlgara veterana, do The Marginalian.

Pelo menos na minha bolha de produtores de conteúdo, há um consenso: todos querem que 2023 seja um ano tedioso, se comparado com o ritmo anfetamínico dos últimos quatro.

Ahã.

Passado o recesso de fim e ano, é provável que continuaremos prestando atenção nos mesmos personagens, seguindo a mesma dieta de (des)informação, visitando os mesmos sites, usando aqueles aplicativos e sonhando com a chegada do Grande Dia do Alívio. Dessa vez vai: fazer as mesmas coisas causará resultados diferentes.

Sempre pode acontecer que o AWS caia mundialmente e sejamos forçados a mudar de rotina. (AWS significa Amazon Web Services, infra-estrutura por trás de muitos serviços que usamos.) Mas é mais prático investir em novos hábitos.

Por exemplo, em vez de gastar praticamente todo tempo criticando o que há de errado na tecnologia, buscar mais alternativas. Um pouco como Mark Hurst, do Techtonic, tenta fazer, buscando pessoas e ideias inspiradoras.

Especialmente, o plano é evitar ser atacado pelos batedores de atenção. Quer dizer, os trombadinhas midiáticos. Aqueles que aproveitam nossos espaços cognitivos confusos para sugar nosso tempo e energia.

Não me refiro aos grupos de extrema-direita no WhatsApp / Telegram — esses são fáceis de identificar, são o equivalente aos assaltos. A ideia, aqui, é prevenir o furto, as ações, digamos, sub-reptícias. Isso em três níveis:

Individual — evitar alimentar gente que manipula indignação, que cria factoides diários para manter os holofotes em si.

Institucional — passar longe da imprensa caça-cliques, dos trending topics, das ondas de piadas inúteis da semana.

Coletivo — criar anticorpos para a boa-intenção misturada com vício mental ou preguiça. Ou seja, essa mania de reclamar rápida, compulsiva e superficialmente nas redes sociais.

Pelo menos para mim, o consumo constante de desabafo crônico leva ao esgotamento mental. É por isso que tenho admirado cada vez mais trabalhos como o de Maria Popova, do The Marginalian. O mundo pode acabar em tweets de oligarcas e ela permanecerá, firme e forte, analisando escritores e filósofos. Não deixa de ser um comentário sobre o presente. Mas bem longe dos trombadismo cognitivo.

Avanti Popova! Evviva il sanidade e la libertà.


Texto publicado originalmente na versão paga da newsletter Texto Sobre Tela, que sai aos domingos.


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