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Bêbado

Bêbado

Por Eduardo Fernandes.

Semana passada, finalmente assisti ao Druk, filme de 2020 de Thomas Vinterberg sobre… deixe-me pensar… tecnologia.

Como? Não é uma comédia, na qual quatro professores de ensino público e fundamental resolvem trabalhar bêbados pra testar uma tese de um psicólogo dinamarquês, que diz que os humanos nascem com uma deficiência de álcool no sangue, que deve ser recalibrada via manguaça?

Se você ler descrições na internet, é sobre isso mesmo. E também sobre crise de meia idade e a cultura alcoolista dos jovens da Dinamarca. Mas, pra mim, o assunto é a necessidade humana de usar – e abusar – de ferramentas. Mais ou menos no sentido que George Dyson entende a palavra, em Analogia.

Algumas dessas tecnologias são externas, como o arado. Outras são ingeridas, como os opióides, os analgésicos e o álcool. Outras, implementadas no corpo, como o marca-passo e (daqui a pouco) o Neuralink. Algumas são linguísticas, como as religiões e as ideologias. Coletivas, como festas e a economia. Individuais, como as conversas internas, aquele discurso quase incessante que fazemos pra nós mesmos ("eu estou certo, ele errado, eles gostam de mim, fulano me sabota").

Enfim, o álcool é apenas mais uma dessas ferramentas que revelam o jeito como nossa espécie lida com seus desafios: sempre no limite. A cura sempre está a um passo de virar mais doença. Portanto, vivemos em constante reajuste, sonhando com a homeostase, o equilíbrio – que é outro conceito que inventamos pra lidar com as mudanças e incertezas da vida.

No filme, os quatro professores começam usando pequenas e controladas doses de álcool pra combater suas inibições e criar algum bem-estar. Na verdade, pra lidar com a corrosão e decadência de outra ferramenta: a "identidade adulta". Isto é: profissão, família, casamento, essas coisas que, supostamente, deveriam promover uma homeostase pós-adolescência. Mas não, geralmente, elas também levam à crise de meia idade. E, assim, uma tecnologia sempre cria a necessidade de outra.

Vinterberg mostra os perigos do alcoolismo sem virar panfletário. Não confia e nem desconfia demais do autocontrole. E termina a história num tom até esperançoso. O que me surpreendeu, em especial porque o diretor perdeu uma filha adolescente num acidente de carro, durante as filmagens.

Mas sabe qual é o filme que eu queria ter visto? Em vez dos professores testarem a tese de Finn Skårderud, testariam as de Paul Stamets e Terence McKenna, sobre os fungos, cogumelos e compostos psicodélicos. Provavelmente, esse seria bem mais instrutivo e engraçado.


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