Campanha pelo resgate da função original dos banheiros
A vida era mais simples quando os banheiros serviam apenas pra fazer as necessidades biológicas. As pessoas entravam, resolviam o assunto, conferiam o espelho e, pronto: espaço liberado.
Hoje, trancam-se e assistem a vídeos no celular. Dias depois, a polícia precisa arrombar a porta pra encontrar uma cena deprimente: o cadáver decomposto da pessoa, sentado ao vaso, com o aparelho numa das mãos esqueléticas.
A arquitetura contemporânea precisa se adaptar. Precisa promover esse que talvez seja o divórcio mais importante da nossa época, depois daquele entre o Estado e a Religião (ainda que exista uma amizade colorida).
Que divórcio? O do banheiro e o entretenimento.
Toda casa poderia ter um cômodo radicalmente individualista, privado, onde se pudesse ficar seminu e escrolar infinitamente. Até que a genética da espécie se adaptasse (o sapiens scroller seria curvado pra frente, teria traseiros enormes e indicadores muito maiores do que o resto dos dedos).
Assim, os banheiros voltariam ao seu estado natural: um espaço temporário, voltado a atividades ágeis e consagradas pela tradição, como pensar sobre paranoias de trabalho e sobre relacionamentos.
Numa época em que se fala tanto em inovação, perdemos essa oportunidade única: a de criar um espaço plenamente otimizado pra degradar corpo e cérebro.