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Comentando Ashes of Time, de Wong Kar-Wai

Comentando Ashes of Time, de Wong Kar-Wai

Por Eduardo Fernandes.

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É costume dizer que, no começo dos anos 2000, Wong Kar-Wai criou uma trilogia clássica de filmes sobre amor. Mas, afinal, quais filmes dele não são sobre amor? Ashes of Time (Redux), de 1994, não é exceção.

Se, como argumentei anteriormente, Fallen Angels é sobre amor platônico, Ashes of Time é sobre rejeição e amores circunstancialmente impossíveis.

Aqui, vemos uma sucessão de vários fragmentos de histórias, conectada pelas expectativas e inibições culturais do mundo dos samurais – ou, pelo menos, tais como elas são narradas por autores urbanos e contemporâneos. E, então, essas narrativas giram por temas como lealdade, vingança, busca pela respeitabilidade e por padrões de excelência, na prática de esgrima.

A(s) história(s) #

Ashes of Time não é um filme fácil de acompanhar. Assim que você começa a se "apegar" a um personagem e a seguir seus conflitos, o foco narrativo muda.

No entanto, é possível dizer que há um protagonista: Ouyang Feng, um assassino de aluguel, que vive praticamente solitário num deserto, retratado em cores saturadíssimas, o que confere um tom surreal ao local.

Feng parece ser um mestre de artes marciais altamente realizado. Porém, está mais preocupado em criticar a vida alheia e provocar epifanias. No fundo, carrega o fardo do arrependimento. Por conta da sua obsessão com a vida de guerreiro e certo descaso, perdeu aquela que seria sua futura esposa para o irmão.

Feng é apenas um dos personagens que alimentam amores bloqueados.

E por aí vai.

O amor é sempre impossível em Ashes of Time. Uma lembrança idealizada do passado ou uma promessa remota num futuro.

Contextualizando #

O filme é uma prequel dos acontecimentos relatados num romance clássico sobre artes marciais, chamado The Legend of the Condor Heroes, publicado, por volta de 1960, por Jin Yong.

Talvez os leitores do livro consigam ter uma visão mais clara dos personagens. Mas isso não é de todo necessário. Se você relaxar da linearidade e acompanhar o tom expressionista e até psicodélico do filme, vai tirar algo dele.

Ainda que não saiba exatamente quem cortou a cabeça (ou o coração) de quem.