Por Eduardo Fernandes.
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, é um dos filmes mais aguardados de 2022. Foi produzido pela A24, que se tornou uma espécie de grife, por misturar as fronteiras entre o cinema experimental e os blockbusters.
É mais ou menos isso o que acontece em Tudo em Todo Lugar: misturar inúmeros gêneros. Aliás, que título adequado.
O filme parece uma comédia pastelão, ou pelo menos uma no estilo de Corra Que a Polícia Vem Aí. Vem recheado de piadas fálicas de quarta série. Também é quase um filme da Marvel, com heróis, multiversos, artes marciais e ritmo acelerado demais para não dar tempo de procurar coerência no roteiro.
Além disso, tenta incorporar um tom de filme independente, com conflitos familiares, dificuldades de manter um relacionamento longo e problemas com a imigração nos Estados Unidos.
Enfim: o filme é uma bela gororoba. Realmente, tenta ser tudo ao mesmo tempo.
E o resultado? Melhor que você tire suas próprias conclusões.
Logo que terminei de assisti-lo, pensei que o filme retratava uma espécie de Existencialismo Marvel, na linha do que dizia Jean Paul Sartre: “Estamos condenados a ser livres“. Ou até esbarrava no absurdismo do escritor francês Albert Camus.
Mas logo concluí que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo está mais para outra tendência, a do FOMO existencial. Quer dizer, Fear of Missing Out, mas não -voltado apenas aos últimos produtos ou notícias.
Funciona assim: já que você está vivo, é obrigado a fazer “escolhas” constantes. E, conforme as condições e situações que a vida vai lhe apresentando, você pelo menos tem a impressão de que está direcionando sua vida. Cada escolha abre um universo paralelo de consequências.
Porém, surge um problema: você não tem como saber o que teria acontecido se tivesse optado por outros caminhos. E é aí que surge o FOMO existencial.
No filme, a protagonista, Evelyn Wang, está sempre revoltada, paralisada e ressentida por não saber como teria sido sua vida caso ela tivesse tomado outras decisões – em especial se não tivesse se casado com o ingênuo e atrapalhado Waymond Wang.
Aos poucos, Evelyn desenvolve a capacidade de acessar todas suas vidas alternativas. Evoca memórias e poderes de todas as suas versões paralelas. É o sonho de consumo da nossa época: explorar tudo, escolher só o que eu quero, nunca sofrer as consequências.
E, quando se tem tudo à mão, ao tempo todo, o que sobra? Um vazio, um sentimento de absurdo, de que nada faz sentido. Uma vontade de querer fugir para o nada, seja ele representado por uma pedra ou por um biscoito, uma rosca gigante.
Claro, apesar do seu estilo gororoba de anfetamina da quarta série, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, merece algumas análises mais profundas. Principalmente para discordar de alguns posicionamentos ideológicos do filme. Mas, antes, vamos precisar diminuir a velocidade dele. Dá para assistir em -2x?
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