Por Eduardo Fernandes.
Hey, ho. Let’s go. Strawberry fields forever.
😮 Afe! O que aconteceu? O que a Texto Sobre Tela está fazendo no Substack?
Já respondo. Antes, vamos dar umas voltas.
Revolução ou reforma? #
Em relação à prática diária da criatividade, há (basicamente) duas atitudes:
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Beatles - Reinventar-se constantemente. Procurar novas fronteiras. Abandonar as anteriores. É uma postura, digamos, mais revolucionária.
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Ramones - Reformar uma fórmula ao longo dos anos. Aplicar mudanças com muita parcimônia.
Recentemente, descobri uma terceira: você deseja ser (ou acha que é) Beatles. Mas, na prática, é Ramones.
Consciente ou inconscientemente, alimenta essa inquietude, curiosidade e desejo por mudança. Porém, os hábitos e a correria do cotidiano levam-no ao reformismo.
É mais ou menos o que acontece comigo.
Esse não é (necessariamente) um julgamento de valor. São atitudes diferentes, com seus pros e contras.
O interessante é notar esse estado intermediário entre o desejo e a prática. Ele pode levá-lo a certa ansiedade (“desequilíbrio nos ventos”, diriam alguns budistas). E daí você sai trocando os móveis da casa, muda de visual e até… migra de plataforma.
Espelho feito de letras #
Escrever (mesmo que sobre tecnologia) é um estado de desvelamento contínuo. Como jogar uma bola de tênis na parede – ela quica de volta. Você escreve e é escrito pela escrita.
Começa o texto achando que ele será anarquista. Quando vai revisar, percebe que é positivista. Três dias depois da publicação, questiona se foi você mesmo que digitou aquele diabo.
A criação é o ato arrogante mais humilde que existe. Você se dispõe a ser um tipo de organizador. E, assim que começa a manejar as ferramentas, descobre-se o ente mais desorganizado que existe. A cada certeza, dez dúvidas.
A tela do computador te suga e te expele. Você basicamente reage ao próprio processo de criação. Assim, compor um texto é um tanto como quebrar um para-brisa (abrem-se inúmeras fissuras) tentando colá-lo simultaneamente.
Ao extrair sentido desse processo, você cria narrativas a respeito de si. E estas mudam constantemente. É um fractal recursivo, para usar um termo obscuro.
Mas e o Substack? #
Está vendo? Era para explicar a migração pro Substack e olha onde fui parar.
Primeiro: nada muda, tanto para assinantes premium quanto para os gratuitos. Preços, entregas, tudo igual para quem já assinava.
E continuo seguindo a estratégia centrífuga de publicação, conforme expliquei aqui. Se o Substack mudar as regras, tudo está no meu site. Zona Autônoma Temporária.
A ideia da migração surgiu de dois desequilíbrios: nos ventos e nas finanças. O antigo sistema de publicação começou a ficar pesado, confuso e… caro. Como minha operação ainda não é sustentável, precisei baixar custos.
No começo, pensei em mudar para o Beehiive, um excelente concorrente do Substack. Mas também sairia caro. Então, se tolero YouTube e Anchor, por que não o Substack? Basta ter cópias do material no meu site.
E, claro, se você realmente quer receber o material extra, mas não pode pagar por ele, é só me pedir, respondendo a este e-mail. Nem precisa se justificar.
Enfim, espero que você não se importe com a mudança e continue seguindo a newsletter.
E, agora, sim, vai começar a edição de hoje. Seguem os links.
O terapeuta Phill Stutz, boquiaberto, dormindo nas nuvens.
Filmando o terapeuta #
Hesitei bastante antes de ver O Método de Stutz, documentário que o conhecidíssimo comediante Jonah Hill fez sobre seu terapeuta, Phil Stutz.
Tendo passado por algumas experiências estranhas com psicólogos (um, inclusive, me deu ghosting), não quis ler absolutamente nada sobre Stutz e suas ferramentas, como preparação. A ideia era assistir ao filme como se fosse ficção. Afinal, num certo sentido, sempre é.
Acaba que fui fisgado pelo tom constrangedor, humorístico, vulnerável e meio absurdo do documentário. Stutz tem 74 anos, convive com o mal de Parkinson, é um piadista e não exatamente elegante.
Um dos momentos mais tensos acontece quando o terapeuta brinca que faz sexo com a mãe de Hill. No outro dia, o diretor coloca Stutz na frente dela. E lhe conta o ocorrido. Na frente das câmeras. Cringe é pouco.
O filme começa meio como “seita”. Mas, aos poucos, se dissolve em constantes golpes contra a quarta parede. Torna-se uma relação (teatral) de desnudamento mútuo, mais do que um comercial das ideias de Stutz. Só por isso, já meio que vale a pena.
Sobre o trabalho do terapeuta, em si, deixo para especialistas julgarem.
Tech #
- Navegadores são um dos poucos tipos de aplicativos nos quais desconfiamos de inovações. Em um perfil para The Verge, o desenvolvedor veterano Darin Fisher, ex-Netscape e ex-Google, conta como resolveu enfrentar o conservadorismo desse mercado e apostar na startup The Browser Company, que tenta reinventar a roda com o Arc.
Ferramentas #
- Nicheles é mais uma plataforma super minimalista de micro-blogging. É como se o Write.as e o Tumblr tivessem um filho.
- Feedle é uma ferramenta de busca (sem anúncios) focada em blogs e podcasts. Não, não é como o velho Technorati. Mas é possível “assinar” (via RSS) os termos procurados.
- Pixel Vibe é tipo o Unsplash, só que para imagens geradas por Inteligência Artificial.
Cultura #
- Que o Nepal é um dos locais mais singulares do planeta, isso é fato. A começar pelos aeroportos. Mas, segundo a BBC, o país hospeda uma linguagem que não usa a palavra não. E nem possui conceitos dualistas para direita e esquerda. Se entendi direito, as pessoas se entendem por relatividade, contextos e probabilidades. Parece coisa de Jorge Luis Borges.
- Se o escritor norte-americano, Kurt Vonnegut, estivesse vivo, faria 100 anos em novembro. Perfil dele na The Critic.
Música #
- Playlist só com bandas pós-punk e darkwave brasileiras? Temos.
- Irresistível reedição de um compacto de 1971 do The Jungle Rat USA, uma daquelas bandas de funk / soul que fariam bonito no programa de rádio Downtown Soulville. Isso sim é que é black friday.
- Não sabia que o baterista Damon Che, criou um canal no YouTube para a clássica banda de math-rock Don Caballero.
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