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Cuidado com suas metáforas

Por Eduardo Fernandes.

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O que pensar de uma sociedade que define o tamanho das suas camas por meio de metáforas políticas? Cama king, queen-size, todos são nomes associando conforto à monarquia. E cobrando preços generosos por isso.

Pelo jeito, nem os ideólogos do capitalismo leem mais o Steven Pinker, que, se entendi direito, dizia que, na nossa época, (alguns de nós) vivemos mais confortavelmente do que muitos monarcas do passado.

Na verdade, essa anacronização das camas, é mais um exemplo de um costume cultural praticado especialmente pelo marketing: o de criar metáforas desinformadas – ou desinformantes. Porque as camas de um rei Viking eram muito diferentes dos futons de governantes da Ásia (em especial fora das séries do History Channel).

Portanto, quando você for comprar a próxima cama, exerça seu Direito Divino de consumidor e exija uma metáfora mais coerente. Ou, pelo menos, mais detalhada. De que rei você está falando? De que país? De que época?

Além disso, sabemos que a maior parte da fortuna da monarquia vinha da exploração dos súditos. Todos morrendo de fome, sofrendo com as doenças mais diversas e pagando impostos pra que a rainha tivesse uma cama tão confortável que sua fama atravessaria séculos.

Eu não conseguiria dormir de posse dessas informações.

Pior. Se fôssemos aceitar essa metáfora, o quão grande seriam as camas dos imperadores asiáticos e europeus? E seriam feitas de quê? Uma cama Xogun-size teria um colchão de sangue, em vez de água? Uma Roman-Imperor-size, de vinho e semen?

E o que dizer de todas as outras hierarquias? Por exemplo, qual seria o tamanho de uma cama minister-size, civil servant-size ou lobbist-size? Por que apenas uma parte do sistema político merece servir como metáfora?

Na verdade, parece que uma das coisas que mais caracteriza o marketing é a prática de não pensar direito sobre suas metáforas. Isso numa época na qual apenas começamos a reparar nos pronomes e em certas forças inseridas na linguagem quotidiana.

Mas uma coisa eu preciso revelar, algo que ninguém mais terá coragem de dizer: sabe aquele barco que bloqueou o canal de Suez? Sabe o que transportava? Um lote de colchões tamanho CEO-bilionare-size. Vai vendo.