Skip to main content
eduf.me

Design é política

Por Eduardo Fernandes.

Siga a newsletter Texto Sobre Tela e receba textos como esse em sua caixa postal.

Mark Zuckerberg, dono do Instagram e, agora, do Threads.

A Meta acabou de lançar o Threads, um aplicativo pra competir com o Twitter. Em apenas 4 horas, arrebanhou 5 milhões de usuários. No total, o Twitter tem 354 e o Mastodon, 10.

Acho que podemos chamar isso de fenômeno de massas, não é? Talvez só menor do que o advento do ChatGPT. Essa é a cara da cultura de massas nos anos 2023. Diversificamos o consumo de informação, mas ainda usamos os produtos de pouquíssimas corporações.

A ideia de vincular o novo programa ao Instagram facilitou o cadastro, levando à adoção por impulso. Outra evidência de que o comportamento de manada, essa coisa tão século 20, continua atualíssimo. Mais saudável que o GigaChad.

Os profissionais de UI (User Interface) e UX (User Experience) são alguns dos maiores instrumentos de política da atualidade. Seu trabalho é crucial pra movimentar o tempo, dinheiro e a saúde mental de bilhões de pessoas.

Mas é claro que muitos sequer pensam nisso. Por que gastar tempo com formação política? Já estão felizes quando o cliente aprova um trabalho. A lógica é um pouco aquela descrita por Hannah Arendt, em Eichmann em Jerusalém: “eu só cumpro ordens”.

É fácil usar o capitalismo como desculpa. É algo tão enorme, tão abstrato, tão indestrutível que seria inútil ter uma comissão de ética dentro da startup. Ou o próprio designer questionar os métodos da empresa.

Poderíamos usar o tempo e energia que gastamos nos cancelando em timelines pra debater temas urgentes. Como criar aplicativos e interfaces que não sejam baseados em manipulação e compulsão? Como combater padrões obscuros? Como ajudar o usuário a se autorregular?

Profissionais de UX e UI, designers e copywriters não são meros funcionários. Hoje em dia, seu trabalho traz uma enorme responsabilidade política. Não adianta ser “de esquerda” no Twitter (ou no Threads) e de direita no Figma.