Por Eduardo Fernandes.
Pelo jeito, nessa semana, serei pautado novamente pelas redes sociais. É que preciso desenvolver melhor algumas ideias do episódio sobre o Instagram do meu podcast.
O raciocínio #
- Sim, é importante que a cultura se autocorrija constantemente. Ou seja, que altere suas metáforas, pronomes, amplie sua capacidade de perceber que a linguagem cotidiana pode exprimir racismo, especismo e viés político.
- Porém, não podemos ser ingênuos. O processo de correção também revelará ideologias, pontos-cegos e interesses políticos.
- Toda mudança gera consequências, por vezes inesperadas. Ou até pioram a situação inicial. Ainda assim, isso é o que os humanos fazem: tentar até acertar.
Resumindo: sim, precisamos regulamentar as redes sociais. Porém, isso não será o suficiente. E pode ser igualmente perigoso.
Fortalecer os "usuários" #
Tentar APENAS regulamentar é como colocar couro no planeta inteiro em vez de usar sapatos. Ou seja: uma tarefa ineficiente e infinita.
Assim, é importante também fortalecer as pessoas para lidar com situações de conflito. Ajudá-las a ter auto-eco-conhecimento (conhecimento de si, da dinâmica da sociedade e da inter-relação entre ambos).
Lembra da velha e boa educação? Afinal, esse é o assunto aqui. As redes sociais não podem assumir o papel das escolas e educadores.
Dando um exemplo #
Não basta combater a prática do bullying. É preciso criar redes de suporte psicológico, tanto para a vítima quanto para o algoz – que, geralmente, é vítima de outro bully, em casa. Ou seja: partimos do pressuposto de que todos os problemas são multifacetados e possuem várias possibilidades de intervenção.
As redes sociais podem ser um bullying institucionalizado. Ou melhor, a exploração capitalista da lógica do bullying. E isso não vale apenas para o Instagram ou só para as adolescentes.
Por exemplo, o ambiente energético e cognitivo criado em torno do Twitter parece nos convencer de que o bullying é um discurso não só normal como necessário: se você não está esbravejando ou ridicularizando, você é conservador ou reacionário. Jaron Lanier vem nos alertando sobre isso já há alguns anos.
Portanto, ao conviver com as redes sociais, gradualmente, tendemos a perder a capacidade de acompanhar argumentações mais lentas, concatenadas e complexas. Nos acostumamos ao viés binário, à mente booleana (ou sim, ou não).
Também ficamos hipersensíveis à energia e à velocidade da comunicação, cegos à construção concatenada do raciocínio. Tal é a profundidade da colonização mental que as redes sociais atingiram nos últimos anos.
Mas é melhor parar por aqui. O texto já está enorme. É bom desenvolver as ideias em microdosagens, pílulas frequentes. Senão… overdose.
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