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E se o Elon Musk comprasse o Twitter?

Por Eduardo Fernandes.

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Transcrição do episódio #

A essa altura, você já deve ter ouvido falar sobre a saga de Elon Musk tentando comprar o Twitter. Até agora, parece mais um seriado de TV: Musk ataca de um lado e os executivos do Twitter de outro. O mistério permanece.

A parte mais interessante é que existe um viés de que “privatizar” ou “muskizar” o Twitter seria atacar a democracia. Mas será?

É engraçado como, ao longo dos anos, realmente adotamos a ideia de que as redes sociais são toda a Internet. Consciente ou inconscientemente, esquecemos (ou tentamos ignorar) que existe todo um mundo lá fora, a open web. Ou seja: os blogs, os sites pessoais, os digital gardens e até mesmo redes sociais alternativas.

No caso do Twitter, por exemplo, há pelo menos uma opção que é, mais ou menos, o sonho do próprio Elon Musk, o Mastodon. É um aplicativo descentralizado, sem censura, sem algoritmos, pode ser instalado em seu próprio servidor e é altamente personalizável. Você pode conferir por si mesmo no endereço Mastodon.social.

Mas, infelizmente, a extrema-direita é muito mais audaciosa do que muitos esquerdista e já descobriu a open web faz tempo, chegando até a criar seus próprios aplicativos.

Já os adeptos das criptomoedas não param de inventar ecossistemas complexos e obscuros. Ainda assim, dão um jeito de adquirir usuários. Mesmo que estes precisem pagar e conviver com sistemas instáveis, lentos e bugados.

Então, parece que só a esquerda tem um problema de aprendizado. Já que muitos jornalistas vivem reclamando do quão difícil seria fazer pessoas comuns migrarem do Twitter, YouTube, etc. Será que somos todos tão burros e preguiçosos assim?

É esperado que corporações e empresas bancadas pelo mercado financeiro passem por turbulências como essa envolvendo Twitter e Elon Musk. No meio delas, parece que nós, os usuários, ficamos completamente impotentes.

Mas não podemos esquecer de que as redes sociais são aplicativos que funcionam na lógica do network effect, efeito de redes. Ou seja: se pararmos de usá-los, eles valem nada. Em tese, o poder estaria nas mãos dos usuários e não dos acionistas. Mas quem acredita nisso, não é?

Se os influenciadores ativamente incentivassem o público a adotar aplicativos e sistemas alternativos, se o público incentivasse os influenciadores a sair da zona de conforto corporativa, então, Elon Musk poderia comprar o Twitter e trocar por um pastel especial na feira. Isso não afetaria a democracia.

Melhor ainda: se percebêssemos o quão nocivo é usar redes sociais compulsivamente, se abandonássemos a dependência à big tech, veríamos que há um universo lá fora. Não só de aplicativos para usar. Mas também a possibilidade de ficar em silêncio e boicotar a trolagem cultural.

Mas é claro que não, vamos ficar aqui, passivamente, esperando a extrema-direita se apossar da open web e dos projetos open source.