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Está cansado? Que tipo de cansado?

Por Eduardo Fernandes.

Quem é que não está mentalmente cansado hoje em dia? Cientistas franceses acharam o motivo. É um neurotransmissor chamado glutamato. Deu na The Economist. Ele se acumula no cérebro, causando a sensação de fadiga.

Solução? Ora, dormir. Por enquanto, é isso mesmo. Daqui a pouco, alguém inventará outro bloqueador de fadiga mental. E ficaremos mais ou menos dependentes, como de tantos outros remédios e substâncias.

Mas por que toquei nesse assunto, que conheço tão pouco? Quer dizer, neurociência, não cansaço mental. Nesse, sou PhD. Ao longo da minha vida, meus estilos de vida paralelos (escritor e meditador) me colocaram numa posição privilegiada pra enfrentar períodos de fadigas mentais.

Uso o plural porque nem todas são iguais. Vamos dividir a fadiga em duas categorias:

Fadigas de dispersão #

A mais fácil de perceber é a fadiga decorrente da ausência de foco. Surge do multitasking, da procrastinação, do scroll infinito, de pular de uma “diversão” pra outra. Após horas de indulgência nesse estilo de vida, a pessoa se sente completamente exausta. E, ainda assim, pode repetir comportamentos compulsivos por horas. Até apagar num sofá.

Outra fadiga mental conhecida é a que deriva da antecipação, da ansiedade. Sofrer por antecedência. Prática tão velha, que foi criticada na Ásia por diversas tradições “religiosas” e pelos Estoicos, na cultura europeia. O esgotamento mental vem da prática de pensar obsessivamente sobre uma situação hipotética, tentando prever cenários, calcular resultados e encontrar explicações.

E também há a fadiga pela quantidade de informação a ser processada. Agenda lotada, muita gente falando ao mesmo tempo, demandas que se acumulam. Excesso de estímulo. A parte que causa mais cansaço é a sensação de descontrole, de desorganização e de perigo iminente.

Fadigas de concentração #

De modo geral, temos medo de tarefas mentais que exigem concentração. Antes de nos engajamos nelas, podemos cair no limbo das fadigas de dispersão. Mas, uma vez que você começa, o foco acaba produzindo energia e entusiasmo. Mesmo que você não entre no famigerado estado de fluxo.

A ideia de que você está “realizando algo” traz uma sensação psicológica de poder. Isso ajuda a combater o cansaço. É um pouco como fazer exercício físico: ao final de uma sequência, bate uma fadiga prazerosa, até.

É claro: estou falando aqui do ponto de vista de um neurotípico. Pessoas com outras características mentais sentirão outros cansaços.

Tudo isso pra dizer que é difícil medir fadiga mental. Essa tendência de explicar tudo via neuroquímica pode render umas anedotas na Economist e gerar conteúdo por aí. Mas experimentar cansaço é outra coisa.

Não estou defendendo, nem atacando. Não quero promover aqui a filosofia do “vou descansar quando morrer”. Nem a do “vou morrer de tanto descansar”. Minha pergunta é: e se encontrarmos uma “molécula” da fadiga mental? Vamos ignorar todo o contexto social e psicológico do fenômeno?

Nem sempre há como evitar fadiga mental. Maternidade e paternidade, por exemplo. Emergências de saúde. Trabalhos acumulados. Retiros. Nessas circunstâncias, fica evidente qual são os maiores energizadores e bloqueadores de cansaço humano: narrativas.

Não há glutamato que derrube motivação ou engajamento em ideias. Até certo ponto, é possível suportar graus elevados de burn out. David Blaine que o diga.

Obviamente, não queremos mais um bloqueador de cansaço que danifique a saúde. Ou que ignore questões culturais fundamentais. Já temos diversos deles por aí. Incluindo computadores. Incluindo entretenimento.


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