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Irma Vep: a série mais maluca de 2022

Irma Vep: a série mais maluca de 2022

Por Eduardo Fernandes.

Você está na França. É bonita. Não precisa se preocupar com dinheiro. Faz sucesso profissional. E até encontrou um trabalho com algum significado. Tudo parece ter sido minuciosamente estruturado para deixá-la feliz. No entanto, não só você, como todo mundo à sua volta parece angustiado, ansioso e sem chão.

Essa seria uma descrição razoável para o contexto emocional (veja bem, contexto emocional) da série “Irma Vep”, da HBO.

Já a história é bem mais complicada. É praticamente impossível de resumir. Se você achava o “Inception” maluco, imagine “Irma Vep”.

Mas vamos dizer que a série se divide em dois focos principais.

No primeiro, acompanhamos uma atriz norte-americana de blockbusters chamada Mira. Cansada de fazer filmes de super-heróis, ela vai para Paris, onde se engaja na produção de uma série mais artística e independente.

Na verdade, é um remake de “Les Vampires”, uma série clássica do cinema mudo. Mira deve interpretar uma vilã chamada Irma Vep, que é uma espécie de musa de uma gangue de crime organizado, conhecida como Os Vampiros.

No processo de criação da personagem, Mira acaba entrando em contato com seus lados mais perversos e empoderados. Aos poucos, vai mesclando sua própria personalidade com a de Irma Vep, vestindo um uniforme preto, invadindo apartamentos alheios e cometendo pequenos crimes.

Quer dizer: a série é um filme sobre os bastidores da recriação de “Os Vampiros”. Mas, na verdade, é também o remake de um filme que o mesmo diretor, Olivier Assayas, fez em 1996, também chamado “Irma Vep”.

Não disse que era complicado?

Mas, obviamente, já deu para perceber que a ideia é debater sobre o que significa fazer cinema hoje em dia, sobre as comédias e tragédias de conviver com atores, produtores, advogados, mercado, etc.

Já o segundo foco, vai pelos conflitos pessoais dos personagens. Mira perdeu dois relacionamentos, o marido e uma amante. O diretor da série é um perfeccionista inseguro, que faz o seu melhor para não surtar e manter sua equipe sob controle. Finalmente, também tem os outros atores, que ficam enciumados e tentam mudar os personagens para se adaptar às suas ambições.

Mas o melhor personagem mesmo é Gottfried, um ator alemão hedonista e viciado em crack. Ele é vivido pelo incrível Lars Eidinger, o que também é uma piada interna do diretor, Olivier Assayas. É que Eidinger também é conhecido por ser um ator extremamente provocador e polêmico, do tipo que faz xixi no palco.

Enfim, Irma Vep é a cara do mundo pós-Internet: todos os assuntos colidindo, debates deixados pela metade, narrativas nubladas e conflitantes, gêneros e ideologias brigando umas com as outras e uma discussão contínua do que é mídia, do que significa fazer cinema, um questionamento de se vale a pena dizer algo e, em simultâneo, se, afinal, conseguimos ficar de boca fechada.

Muito mais do que uma série sobre cinema, “Irma Vep” é uma série sobre a angústia da aceleração, a angústia da nossa época, a do tudo ao mesmo tempo agora.


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