Por Eduardo Fernandes.
[caption id="attachment_176" align="aligncenter" width="690"] Screenshot do site de uma importande editora norte-americana[/caption]
Interessante como o marketing de livros está cada vez mais parecido com o de música. Pelo menos o praticado pelo Spotify:
- Visão "prática" do consumo cultural - "leia pra obter isso…", "consuma pra lidar com aquilo…".
- Categorização da cultura de acordo com estados mentais - "leia pra se inspirar" (o que pressupõe que o usuário estaria sem inspiração) etc.
- Uso de metáforas tecnológicas específicas, vinda de mídias como áudio e TV - "press play to…" em vez de "read", leia.
Já ouvi dizer que não temos mais uma "realidade compartilhada", vivemos cada um na sua própria bolha. Parece que a cultura de massas acabou. Mas isso está longe de ser verdade.
Há um ambiente discursivo que permeia (e permite) praticamente todas as nossas bolhas.
Bolhas só existem por causa do ar, certo? Mesma coisa aqui: cedo ou tarde, até mesmo os nichos mais específicos precisam se misturar com o discurso de marketing atual. Uma pessoa é integrante do QAnon, outra do partido comunista. Ambas usam o Twitter.
Onde está a cultura de massa e o "discurso compartilhado"? Nas metáforas, nos estilos de textos, nas expectativas, mecanismos e objetivos da indústria cultural digital.
Como diria um ditado tibetano, quando você joga um graveto pra um cachorro, ele tende a correr atrás disso. Quando joga pra um leão, ele tende a corre atrás de você.
Ou seja: em vez de mirar nos assuntos, precisamos perceber de onde eles surgem. E também onde e como eles são divulgados. Saímos das superfícies e investigamos as estruturas e comportamentos.
E olha que aqui trato apenas de política e mídia. Mas o ditado acima é bem mais profundos: há outros níveis estruturais ainda mais arraigados, que determinam as estruturas das mídias.
Essas coisas são acessíveis apenas por meio da meditação sistemática, regular, livre de objetivos temporários e comuns (como sucesso, calma, "felicidade").
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