Por Eduardo Fernandes.
Acabei de assistir à estreia da nova temporada de Maron, o seriado do comediante Marc Maron. Como era de se esperar, o criador do podcast WTF, mais uma vez, escolheu sustentar a imagem de que é um destruidor de relações. Na verdade, esse é o tema principal do próprio personagem Marc Maron. Pelo menos aquele que conhecemos publicamente. Haja coerência estética: parece que lhe dá um enorme trabalho sustentar / rejeitar essa narrativa.
Ao final do episódio, eu me perguntava: será que todos somos assim tão monotemáticos? Será que todos orbitamos por uma obsessão principal, por meio da qual filtramos todo o resto do cotidiano?
É claro que, no limite, nossa maior obsessão é tentar solidificar um ego. Mas, dito assim, é um mecanismo muito abstrato. Seria certo dizer que essa tentativa de solidificação geralmente depende de um assunto central, de uma narrativa “especial”, que se sobrepõe às outras?
É fácil de enxergar um processo assim em alguém como Maron. Ele não dilui — ou não quer diluir — sua narrativa principal. Ela virou sua profissão. Maron vai martelar o assunto o tempo todo. Questioná-lo, investigá-lo, explicá-lo via psicologismos em monólogos tragicômicos. Escravidão também gera sustento. Mas pelo menos Maron tem consciência dessa tendência a ser explicitamente monotemático. E sabe que sofre / goza com isso. Tanto que diz ter medo de tomar algum remédio e mudar.
Alguns de nós somos gênios em mascarar uma única obsessão. Por exemplo, há quem tenha medo de rejeição e, a partir daí, vire ativista ou político. E, então, no cotidiano, entra num processo complexo de microgerenciamento: papéis, discursos, agendamentos, leituras etc. Assim, aparentemente, não é monotemático. Afinal, está sempre envolvido com tanta coisa.
Já que vivemos na época do quantified self, da terceirização e comércio do autoconhecimento, seria divertido se inventassem uma espécie de detector de obsessões. Um site no qual você pudesse ver um gráfico sobre quantas vezes pensa num mesmo assunto. E que conseguisse captar as variações sutis do tema.
Talvez nos surpreendêssemos ao perceber o quão limitados são os nossos assuntos e o quão diversas são as nossas abordagens.
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