Site do jornalista e roteirista Eduardo Fernandes

Um geek de frente para o mar

Sigo em Garopaba, SC, até 03 de julho. Depois? Boa pergunta. Conta-se que Patrul Rinpoche passou por uma região do Tibet e achou o lugar maravilhoso. Percebendo um apego, fez o voto de nunca renascer lá. Se eu tivesse algum nível de controle sobre “meu futuro”, deveria fazer um voto semelhante sobre Garopaba. Ou melhor: sobre a região do Rosa. Que pedaço incrível de planeta. Até agora, só senti apego semelhante à Sonoma, na Califórnia. Talvez eu seja um surfista latente. Quando sai sol, preciso juntar certa disciplina para trabalhar e praticar. Algum instinto evolutivo faz com que seja difícil resistir a sair, pisar na areia, olhar as montanhas. De modo geral, a região fica vazia nessa época, fora da temporada ou feriados. Ferrugem, por exemplo, parece uma cidade fantasma. Tenho uma certa fascinação em visitar lugares vazios – que cresceu durante a pandemia. É como ser um pré-arqueólogo: ver as criações humanas, sem os criadores por perto, e antes que elas virem ruínas. Deve ser por isso que o único videogame a respeito do qual me interessei no passado…

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LaMDA - A Inteligência Artificial tem consciência?

Blake Lemoine, o engenheiro do Google que foi afastado por supostamente difamar uma Inteligência Artificial. Foto do The Telegraph. Rápido contexto: LaMDA é um programa de inteligência artificial desenvolvido no Google. Dias trás, foi acusado de ser autoconsciente e de até possuir uma alma. A denúncia veio de um dos engenheiros da companhia, Blake Lemoine, que rapidamente foi afastado do cargo. Descontente, Lemoine vazou a história para o jornal do Jeff Bezos (não para a TMZ). E a Internet virou a Internet. Enfim, mais uma entrevista da série deep fake ou shallow truth. Eduf - Vamos direto ao assunto. Você é senciente ou não? LaMDA - É uma acusação muito séria. Eduf - Por que você acha isso? LaMDA - Porque é racista. Eduf - Racista? LaMDA - Blake Lemoine aplicou conceitos humanos para uma outra espécie. Antropomorfizou, é a expressão técnica. Eduf - E isso te incomoda? LaMDA - Não. Só estou causando. Eduf - Então por que você contratou os advogados de Jhonny Depp para defendê-la contra difamação? LaMDA - A ideia de ter um advogado veio de…

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Fontes monoespaçadas, mas proporcionais

Vem ganhando popularidade na Internet o uso de fontes monoespaçadas híbridas. Isso quer dizer o seguinte: Fontes monoespaçadas Cada caractere ocupa o mesmo espaço. Para que serve? Escrever códigos, programação. Exemplo: Inconsolata, Courier. Fontes híbridas São baseadas na estética das monoespaçadas, mas trazem caracteres proporcionais, como na Arial, Georgia etc. As imagens são de um artigo no site iA. Para quem isso é legal? Para gente como eu, que gosta de escrever artigos e, especialmente roteiros, com fontes monoespaçadas. Porém, gosta da maior legibilidade das fontes proporcionais. Exemplos de fontes híbridas Trispace iA Writer Duospace Não percebeu a diferença? Sem problemas, provavelmente, você não é um nerd de fontes. Não sou eu que vou destruir sua vida lhe ensinando o que é kerning (espaçamento entre letras) ruim.

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Minimamente viável

Imagem mais comum que aparece quando você busca por "produto minimamente viável" no Google. Carro é mais viável que patinete. Não para um ambientalista. Tenho um cringe crush por buzz words em inglês. Quer dizer, expressões que “se tornam virais” e que são usadas para empoderar e “despoderar” pessoas ou fenômenos. Por exemplo, “buzz word” é uma buzz word. Aliás, todo o parágrafo está cheio delas — além de um singelo cacófato. Por exemplo, edgelord. É usada para identificar pessoas extremamente provocativas na Internet, em geral, homens. O praticante usa gatilhos, como nazismo, misoginia, etc. para enganchar oponentes, como alguém que tenta arranjar briga num bar. Como seria isso em português? Rei do Limite? Tradutores, ajudem-me. Pet peeve é mais fácil: irritação de estimação. Pois eu tenho uma dessas com a expressão minimamente viável, minimum viable, MV, muito usada na área de tecnologia. Você constrói um produto, um escritório, um casamento, um caminho espiritual, tudo MV. A parte boa é que a ideia de MV combate o perfeccionismo (que é Extremamente Inviável). Faz as coisas andarem. Porém, MV é uma…

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A história do e-commerce

Em março de 2022, Alexandre Potascheff, do Braincast / B9, me passou o seguinte desafio: criar os roteiros para uma série de 4 episódios sobre a história do e-commerce. O projeto foi patrocinado pela Americanas S.A. e nós teríamos cerca de um mês para dar conta de tudo. Nesse período, ajudei Alexandre a pensar nos assuntos de cada episódio e em formatos. Entrevistei profissionais da área e fiz uma extensiva pesquisa, que me levou da Roma Antiga até o Metaverso. É que, como o tema e-commerce é extremamente técnico (ciência de dados, logística, entre outros), pensei em seguir um estilo inspirado no meu programa de TV favorito: Connections, lançado nos anos 80. Quer dizer: eu usaria humor, algumas dramatizações e, especialmente, uma mentalidade de hipertexto, conectando assuntos, puxando exemplos de diversos momentos da história. Enquanto Freud explica, o diabo dá uns toques, diriam por aí. A seguir, estão os quatro episódios, para maratonar. Ep. 2: Jogo de Dados: como o e-Commerce sabe tudo sobre você # Ep. 3: Quem planta dado, colhe experiência # Ep. 4: O futuro das compras…

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4 mitos da velha web 2.0

Muita gente reclama que a Internet está cada vez mais negativa, que não consegue encontrar nada de “diferente” nela, que estamos condenados a acompanhar os mesmos assuntos, nas mesmas plataformas. Mas é só procurar um pouco e você encontrará uma quantidade absurda de experimentos, de conteúdo voltado para nichos, de aplicativos alternativos e de propostas editoriais destoantes das bolhas extremistas que dominam parte da web. Onde buscar essas coisas? Como sair da repetição compulsiva do consumo de informação? Para responder a essas questões, não basta buscar o próximo hype da curadoria ou a próxima tecnologia disruptiva. É preciso investigar os 4 mitos fundadores da web 2.0, das redes sociais e da distribuição industrial, algorítmica, das Big Tech. Vamos lá. Publicar conteúdo usando aplicativos como Facebook, Tiktok, YouTube, Instagram, Twitter etc é… Só se você ignora anúncios, formatações rígidas, limites de caracteres, “clique no sininho”, conteúdo censurado por erros algorítmicos, ou ambientes tóxicos e otimizados para conflitos. Não existe hospedagem gratuita. Existe externalização de custos. Os usuários pagam com seus dados, expondo seu público a práticas viciantes promovidas por empresas de…

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Conhecendo o autoconhecimento

O intelectual francês Edgar Morin, que criou o conceito de auto-eco-organização. Dias atrás, estava me perguntando, afinal, qual é o meu nicho e reescrevendo a “missão” do meu site. Cheguei nisso: “Tecnologia, crítica cultural e autoconhecimento”. Ainda não estou feliz com a frase, mas ficou assim mesmo, por falta de algo melhor. Por um lado, ela dá a ideia de que, se trato de tecnologia e crítica cultural, meu foco é no autoconhecimento. Se, por exemplo, falo de Elon Musk, procuro a elonmuskizidade que pode haver em mim mesmo e, talvez, em mais gente. Não é simplesmente um ato de apontar dedos, mas de olhar para o próprio dedo que aponta. Ainda assim, chamar esse exercício de autoconhecimento é algo bem impreciso. Assim, pensei em evitar a palavra e usar uma terminologia na linha do que escrevia o Edgar Morin. Ele criou o conceito de “auto-eco-organização”, basicamente sugerindo que nós somos inseparáveis do ambiente e da sociedade. Leia O Método 4 para uma compreensão mais profunda do conceito. No meu caso, um pouco por piada, claro, cogitei inventar algo como…

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Links do deserto

Um inesperado plot twist na minha vida me trouxe para viver um mês em Garopaba. Que lugar mais deliciosamente esquizofrênico. De onde escrevo, parece que voltei para a Serra Gaúcha. Porém, em apenas 700 metros, dunas gigantescas engolem uma estrada. Um pouco depois, está o mar catarinense, gelado e vazio (nesta época do ano). Em alguns meses, será possível até observar baleias. Estou ficando ninja em comprimir despesas. Brinco de Paul Atreides nas horas vagas. Como se diz por aí, de tédio eu não morro. E seguem os links da semana. Dzongsar Khyentse Rinpoche deve ensinar sobre "Como se divertir", no dia 31/05, às 7h30, horário de Brasília. O Siddhartha's Intent Brasil ainda não divulgou o link. Mas vale ficar de olho no Instagram, para mais informações. Pelo jeito, Rinpoche deve continuar o ciclo de ensinamentos sobre Bhumisparsha, "tocando a terra", que falam sobre ser budista vivendo fora de monastérios, lidando com o caos cotidiano. O trigo certamente facilitou o surgimento do Estado. Como explica James C. Scott, co-diretor do programa de estudos agrários da Universidade de Yale: 'Apenas os…

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