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Pensando pequeno

Pensando pequeno

Por Eduardo Fernandes.

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Imagem do vídeo "I Like it Small", do Mudhoney.

Enquanto a Internet corporativa dá sinais de cansaço, surge a oportunidade de resgatar as pequenas comunidades.

Supostamente, esta é uma newsletter sobre tecnologia. Mas, nas últimas semanas, não tenho tido tempo de ler notícias sobre o assunto. Hoje, quebrei o jejum. E, nossa senhora do algoritmo, o que aconteceu?

Apagão no RedditTwitter despejado por não pagar o aluguel, sub-empregados do Mechanical Turk (em parte, responsáveis por alimentar os modelos de IA) passaram a usar a própria IA pra fingir ser humanos trabalhando em sub-empregos.

Parece piada. Mas são sinais de que a Internet corporativa, baseada em empresas bilionárias, números inflados e “economia da atenção”, está começando a ruir. As engrenagens começam a ranger, ainda que estejam longe de quebrar.

Talvez, em breve, o modelo cooperativista — que funciona bem em muitas áreas da economia — submerja do underground pra mostrar que o mainstream é uma ilusão insustentável.

Em vez de usar produtos corporativos supostamente gratuitos pra tentar atingir fama, riqueza e crescimento infinitos, voltaremos a valorizar as comunidades. Dividir despesas, responsabilidades e lucros.

Não é uma utopia. Já acontece no fediverso e em muitos projetos open source.

No começo dos anos 2000, me envolvi com um site coletivo chamado Fraude. Nele, escreviam Daniel Galera, Vanessa Barbara (New York Times), Andrea Dip (Agência Pública), Marcelo Träsel e muitos outros autores de vários gêneros, raças, idades e caminhos de vida.

Na era das redes sociais, seria praticamente impossível juntar um grupo como aquele. Um e-mail de um desconhecido como eu, convidando pra um projeto comunitário, obscuro e gratuito, seria ignorado. A menos que apresentasse números, estatísticas e planos de negócio. As pessoas, talvez, se preocupassem em não “queimar sua imagem”.

Naquela época, o que nos atraiu foi o senso de comunidade, de encontrar pares, de dividir experiências. Alguns de nós somos amigos até hoje. E mais que isso: ainda tiramos dinheiro do bolso pra apoiar os projetos uns dos outros.

Essa é a Internet que, na verdade, nunca morreu. Apenas foi ofuscada pelas “nuvens” corporativas, que começam a se dissipar timidamente.

Muitas pessoas se acostumaram com as perspectivas, expectativas e hábitos da era das Big Techs. Isso virou uma espécie de sistema operacional. Mas com um gosto amargo.

Não de nostalgia, porque muitos da nova geração sequer viveram a passagem dos anos 1990 pros 2000. O que genXers, milenials e genZer compartilham é um sentimento de estranheza: “não é assim que humanos se relacionam o tempo todo”, “esses desejos e ideologias não são exatamente meus”. Algo está errado.

Talvez o cooperativismo seja a mentalidade que poderá aproximar a Internet de uma homeostase, de um equilíbrio possível (e temporário).

As corporações parecem se distanciar cada vez mais de nós, com seus produtos caros, supostamente futuristas e frios. É uma oportunidade de voltar a pensar pequeno. Pensar juntos.