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Pirataria gourmet? Revolução nas editoras?

Pirataria gourmet? Revolução nas editoras?

Por Eduardo Fernandes.

Colecionadores hardcore de HQs já conhecem as chamadas “Edições de Artista”. São livros luxuosos e grandes, contendo reproduções de artes originais. Como são produtos caros, voltados para superfãs e desenhistas, apenas personagens e autores famosos são publicados nesse formato.

É claro que existe todo um mercado de compra e venda de originais, com preços potencialmente estratosféricos. Assim, estudantes e curiosos acabam se virando com cópias em baixa resolução, que encontram na internet.

Esse cenário vem mudando com o advento das tecnologias de upscaling, presentes em aplicativos como o Img.Upscaler. É simples: você sobe uma imagem em baixa resolução e a inteligência artificial lhe devolve uma em alta.

A seguir, alguém com experiência em editoração junta todo o material (ou faz uma curadoria específica) e transforma o resultado num livro, impresso sob demanda, com tiragem mínima.

Foi mais ou menos o que fez um inscrito do canal Cartoonist Keyfabe: publicou apenas 10 unidades de uma “Edição de Artista” de um personagem obscuro da Marvel, chamado Rom.

Sagazmente, o designer enviou uma cópia para os dois cartunistas influencers, Jim Rugg e Ed Piskor (foto acima), conhecidos pelo “fenômeno Keyfabe”, quando exemplares de um livro que eles analisam no YouTube esgotam e sobem de preço em minutos.

Pirataria? Bootleg? Nova fase dos fanzines?

Seja lá qual for a sua visão sobre assunto, práticas como essas abrem enormes precedentes. É só ler os comentários do vídeo para perceber: “vou fazer meu próprio Omnibus (encadernado de revistas)”, “não vou ter que comprar edições recolorizadas”, etc.

É uma espécie de luta contra as decisões das editoras. E até as do próprio autor. E se o fã resolver mudar a ordem dos capítulos de um livro? E se fizer mashups de artistas de épocas distintas (tipo, textos de Dostoiévski com desenhos de Basquiat)?

Obviamente, os detentores de direitos autorais não irão assistir a essas coisas calados. É possível que, em breve, algum tipo de legislação recaia sobre os serviços de impressão sob demanda.

Ou, vai saber, talvez as próprias editoras incorporem o serviço: “Ah, você quer um livro sobre Poindexter? Pagando tantos mil dólares, pode juntar o material e imprimir duas cópias do livro. Legalmente. Se quiser mais, renegociaremos. E a editora fica com os arquivos originais”.

Enfim, se existe Spotify, Audible e Amazon para distribuição digital, quanto tempo deve demorar até surgir algum sistema oficial capilarizado para livros impressos, revistas e até jornais?

Note que não me refiro à autopublicação, no estilo Ipsis. Mas algo como Companhia das Letras On-Demand: “quero só dois capítulos daquele livro do Carlo Ginzburg, para usar na faculdade”.

E, assim, teremos, nessa área também, uma espécie de batalha semelhante à dos singles contra álbuns?

Vejamos.


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