Por Eduardo Fernandes.
Imagem via Annie Spratt.
Se aprendemos algo nessa semana, foi o quão arriscado e triste é ter que depender de monopólios. E não me refiro apenas às corporações. O assunto aqui é o corporativismo psicológico, um hábito (até certo ponto) voluntário que desenvolvemos a cada dia.
Como funciona #
O psico-corporativismo se propaga via três mecanismos que se retroalimentam:
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Pressuposição da escassez. Você é levado a pensar algo assim: "Todo mundo usa o WhatsApp. Todos se comunicam via escárnio e ofensa. Todos consomem nas mesmas plataformas. Fazer o quê? Não há como fugir".
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Controle da diversidade. Na Internet, você encontra os nichos mais específicos. Porém, eles se comunicam e se desenvolvem via Twitter, YouTube, entre outras ferramentas uniformizantes. Então, são tratados como "tendências" ou "estéticas".
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O mito da inconveniência alheia. Aprendemos a lidar com as mumunhas e dificuldades de apenas alguns aplicativos. E não é que eles sejam fáceis. Apenas decidimos enfrentar as curvas de aprendizado de uns, pressupondo que os outros seriam muito piores.
Formando o hábito ↻ #
Por meio desses três elementos, reforçamos diariamente o hábito (de reforçar o hábito) de circular pela Internet centralizada. Assim, é natural que, a cada dia, fique mais difícil sair do Facebook, Instagram, WhatsApp, etc. Quem sai, parece um creep, um weirdooo.
Imagine se isso acontecesse com aviões. Se uma turbina falhasse e não pudéssemos recorrer às outras. Se, em vez de projetar um sistema múltiplo e diverso, preparado para a falha, os engenheiros tivessem planejado aeronaves otimizadas para a centralização, para o monopólio de uma só turbina. Quem se arriscaria a viajar pelos ares?
Medo e delírio #
O psico-corporativismo é uma mentalidade de decadência. Baseia-se no medo da diversidade, na padronização constante e no emburrecimento progressivo.
Compreensível. É mais uma tentativa de domar o caos e a criatividade radical da existência. Ninguém disse que seria fácil.
Porém, feliz ou infelizmente, sempre vai sobrar um detalhe, um lapso, um ponto cego, que vai colocar todo o sistema abaixo por alguns momentos e sussurrar: "ei, há muita coisa lá fora. Muita".
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