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Quanto tempo dura uma ideia?

Por Eduardo Fernandes.

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Cedo ou tarde, quase todo escritor ou artista se depara com uma questão: quanto tempo esse assunto vai durar? E durar pode significar várias coisas.

Por exemplo, formato. Vou conseguirei encaixar o que eu tenho para dizer em 5 minutos?

As pessoas conseguirão manter o interesse por esse tempo todo? Afinal, 5 minutos hoje parecem uma eternidade.

Até recentemente, era comum ouvir músicos reclamando de ter que adaptar suas canções aos formatos comerciais, como os 3 minutos das rádios e os formatos repetitivos da música pop. Hoje, estatísticas do Spotify indicam que, em geral, ouvimos cerca de 30 segundos de cada música, antes de abandoná-la.

Já no TikTok, as coisas são mais ainda mais fluidas: músicos abandonam o formato canção para produzir apenas hooks, ganchos, trechos repetitivos, destinados a capturar e segurar atenção imediatamente.

Tudo isso parece uma tentativa de, supostamente, cada vez mais simplificar o conteúdo até uma célula considerada essencial. E sempre dá para zipar, comprimir, tirar algo dali.

Parece minimalismo, mas é outra coisa: é trocar uma única experiência longa, imersiva e conectada por sequências contínuas e curtas de repetições. Parece que somos a era do staccato, não do legato. Mas não: falamos rapidamente das mesmas coisas. Ouvimos milhares de músicas curtas, mas parecidas.


Mas há outra questão: a da longevidade do conteúdo. Quer dizer, daqui a uma semana as pessoas vão continuar a falar dele? Será até que, em um ano, ele será, pelo menos, compreensível? Vamos conseguir entender as encrencas de Johnny Depp, o Viagra dos militares, o tapa no Oscar? Ou vamos estar tão imersos em novos factoides que nem entenderemos os anteriores?


Nos anos 1960, o pesquisador norte-americano Albert Goldman teorizou sobre um fenômeno que ficou conhecido como Efeito Lindy. Em resumo, Goldman propõe que uma ideia ou tecnologia tende a sobreviver mais ou menos o tempo que já durou.

Por exemplo, boa parte das tecnologias que usamos no nosso cotidiano são muito velhas e, por isso mesmo, confiáveis: copos, rodas, palavras impressas, mesas e camas. Assim, elas tendem a durar mais porque passaram continuamente no teste do tempo: sobreviveram às mudanças históricas, enfrentaram ideias concorrentes e não perderam a relevância.

Por outro lado, ninguém mais usa ICQ, My Space, Orkut ou pagers. Como diria o escritor Bruce Sterling, “novidades disruptivas são mortas por outras novidades disruptivas”.


Lembrei desse assunto ao saber que o Snapchat está em alta novamente. O aplicativo inaugurou um formato que hoje conhecemos como “histories”, copiado depois pelo Instagram e YouTube. O Snapchat foi dado como morto, mas voltou a crescer porque a chamada geração Z, os jovens dos anos 2010 e 20, não gostam da social media tradicional.

Segundo pesquisas, essa geração prefere enviar mensagens altamente cifradas para apenas alguns amigos selecionados. E acha extremamente cafona compartilhar a vida publicamente, virar influencer, criar um grupo de seguidores e se transformar em marca — tudo o que a geração anterior adora fazer.

Além disso, gradualmente, as próprias redes sociais perdem espaço para chats privados, como o Discord. A impressão é a de que o Facebook é coisa de tiosões de direita, que o Twitter suga a saúde mental, o Instagram é comercial demais e o TikTok está seguindo o mesmo caminho. Então, aparentemente, a social media já dá sinais de cansaço.


Assim, num típico caso de Lindy Effect, parecemos estar voltando a valorizar uma tecnologia muito antiga: a privacidade. Ou seja: a ideia de que é melhor compartilhar coisas íntimas com amigos íntimos. Afinal, para a maioria das pessoas, ainda é mais prático ser compreendido do que ser famoso.

De novo, é o teste do tempo: uma ideia antiga pode durar mais tempo do que uma novidade disruptiva. Que estranho, não?