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Reparação histórica para a Big Tech

Por Eduardo Fernandes.

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Transcrição do episódio #

Uma das coisas que a eleição traumática de 2022 deixou claro é que as grandes empresas de tecnologia estão faturando altíssimo com a nossa miséria. Segundo dados da CNN Brasil, só na última semana, os dois candidatos gastaram, juntos, quase R$ 800 mil por dia, em anúncios só do Google.

800 mil. Por dia.

E esses são só os anúncios pagos. Pense em toda a mídia espontânea, que nós mesmos criamos em nossas redes sociais. Posts no Instagram, bate-boca em grupos do WhatsApp, discussões no Twitter, etc. Tudo isso gerando ainda mais receita para as empresas.

Ainda assim, não parece que o Google e a Meta estejam agindo rapidamente no combate às fake news e manipulações dos algoritmos. Ganha espaço quem é mais inescrupuloso ao explorar a ignorância e o pânico moral.

Se a gente conseguir sair desse pesadelo bolsonarista, vai ser o momento de uma verdadeira reparação histórica.

A gente vai precisar parar essa sangria da big tech. Não vai mais poder deixar o caos cognitivo se espalhar mais.

A gente vai ter que repensar seriamente como a gente usa as ferramentas de comunicação. A não ser que a gente queira que política se transforme nisso mesmo: mentiras e manipulações morais espalhadas num ritmo algorítmico.

Daqui do meu achismo, acredito que a gente vai precisar de duas coisas.

  1. Investir em educação midiática. A gente vai precisar (pelo menos) ajudar as pessoas a detectar manipulação. Cursos para entender fake news, distribuição algorítmica, técnicas de produção de mídia (como cortes, montagens), entre muitas outras coisas. Hoje em dia, até parece idiota propor algo assim. Mas educação midiática deveria estar em todas as escolas. Assim como retórica um dia foi uma disciplina importante para os Gregos.

  2. Vamos ter que desvalorizar a Internet.

Como é que é? Tirar o hype da Internet.

Não, não é cool estar online. Não é cool ser influenciador. Ter zilhões de seguidores não serve para aumentar sua autoestima. E é meio triste viver buscando atenção online.

Aliás, precisamos mostrar que viver muito tempo na Internet é um desperdício de vida.

As empresas passaram décadas nos convencendo de que é melhor, mais fácil e mais divertido viver com os olhos grudados em telas. Está na hora de reverter isso. Online é só mais uma das possibilidades humanas. Não a mais importante e nem a melhor. Por que gastar tanto tempo nisso?

Quando a gente colocar a Internet no seu devido lugar civilizatório, talvez a gente consiga diminuir a escala da propagação dos problemas e, pelo menos, começar a combater as fake news e, quem sabe, restituir alguma sanidade na política.