Por Eduardo Fernandes.
Olá‚ Namo Amitaba Ia!
Como estão vocês?
Aqui na minha bolha‚ uma das maiores notícias da semana foi a apresentação do Neuralink‚ o chip que o Elon Musk quer implantar nos nossos cérebros. Há um vídeo resumido do evento aqui.
Na imprensa especializada em tecnologia‚ uma das reclamações era a de que‚ afinal‚ o dono da Tesla apenas mostrou que robôs sabem fazer neurocirurgia. E que é possível ler ondas cerebrais. Essas não seriam‚ exatamente‚ novidades.
Quase todos os articulistas temem quais seriam as consequências de implementar no corpo um aparelho controlado por bilionários e corporações capitalistas. Afinal‚ já sabemos como isso funciona (vide Monsanto‚ Unilever‚ big pharma‚ carros‚ celulares etc). De modo geral‚ não fazemos outra coisa nos últimos séculos: delegamos pra (corpo)rações o controle dos nossos órgãos‚ tempo e pensamentos.
Mas o que eu queria dizer é o seguinte: muitos de nós temos uma visão simplista do que é adotar uma nova ferramenta.
Ainda que critiquemos os ideais positivistas de "ordem e progresso" 🇧🇷‚ no fundo‚ somos extremamente dependentes deles.
Nós esperamos e desejamos que ferramentas tragam "melhorias". Nós vemos as versões anteriores como ultrapassadas e ineficientes. É por isso que usamos expressões como UPdate‚ DOWNgrade‚ entre outras.
Também é por isso que dividimos o mundo em visões restritivas como "progressista" versus "conservador".
Quando adotamos uma ferramenta…
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Raramente ela é nova - trata-se de um remix de várias outras e de várias perspectivas cognitivas (conscientes ou não).
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Geralmente‚ ela produz outras complexidades e necessidades em nossas vidas. Ela pode "facilitar" certos aspectos‚ mas abre todo um leque de possíveis "problemas"‚ novos ou recauchutados / recontextualizados.
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Ao mesmo tempo que pode cortar custos em uma área (por exemplo‚ financeira)‚ pode criar outros em áreas não tão óbvias (psicólogicas‚ tempo‚ sociais‚ ambientais‚ históricas).
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Ela também pode criar pontos cegos e involuções. Por exemplo‚ eu automatizo parte da minha rotina. Mas‚ antes‚ preciso passar por todo um processo burocrático de configuração de um aplicativo (ponto cego: troquei o tempo gasto com a rotina pelo gasto com a configuração e manutenção do programa). E depois fico dependente: se o aplicativo falha‚ não me lembro mais do que fazer (involução).
Enfim‚ cultuamos "novas" tecnologias porque ainda somos positivistas. Pelo mesmo motivo‚ temos medo de ser "conservadores" ou parecer "anti-inovação".
Mas a questão aqui é totalmente outra: pensar a partir de um ponto de vista multilinear. Tudo que produzimos e consumimos tem consequências complexas‚ inesperadas e até mesmo opostas. Ao mesmo tempo. Pra nós mesmos e pros outros.
Eu posso tentar ser conservador e acabar por causar "progresso". Posso me achar progressista e causar efeitos reacionários no meu campo de influência (social‚ psicológico e ambiental).
Depois de tantos filmes e seriados sobre universos paralelos‚ talvez já estejamos um pouco mais acostumados a pensar na diversidade de interdependências e consequências dinâmicas das nossas ações‚ pensamentos e tecnologias.
Se o Neurolink vier mesmo a se tornar um produto de massas‚ não sei se vamos ter consequências tão radicalmente diferentes quanto as que já conhecemos ao colocar nossas vidas em redes sociais‚ comer alimentos processados‚ confiar na medicina industrial‚ no transporte individual‚ no gerenciamento do planeta pelo crescimento econômico.
Quem sou eu pra prever?
Por via das dúvidas‚ fique longe da minha cabeça‚ Elon.
Cansei de reclamar #
Nessa edição do Monólogo Estéreo‚ em vez de uma história‚ falo sobre como podemos transformar o discurso crítico em conversa fiada. Pior: usar o doomscrolling pra ficar depressivo e mais alienado. Ouça lá.
Contos do loop #
Algumas pessoas me dizem que não assistem mais aos filmes‚ só às séries. E então fazem maratonas de episódios — o que‚ mais ou menos‚ funciona como assistir a um filme super longo. Hábitos.
Eu meio que faço o contrário: como meu tempo é meio curto e "fatiado"‚ tenho que transformar filmes em séries (assistir a um longa em vários pedaços ao longo do dia). Ainda assim‚ vejo séries de vez em quando.
Tipo Contos do Loop‚ da Amazon Prime. A série é baseada num livro do fotógrafo Simon Stalenhag‚ no qual ele colocou (casualmente) aparelhos malucos‚ retro sci-fi‚ no meio de paisagens bucólicas de uma cidadezinha do interior dos EUA.
Na série‚ acompanhamos os personagens que vivem e trabalham nesse local‚ no qual há um centro de pesquisas de fenômenos estranhos.
Viagens no tempo‚ transferências de consciência‚ visitas a universos paralelos‚ tudo acontece sem explicação e sem alarde. O foco aqui é nos personagens‚ que tentam eternalizar momentos de amor‚ descobrir suas próprias identidades‚ resolver questões familiares etc.
O clima é lento‚ agridoce e retrofuturista‚ já que as histórias ocorrem nos anos 80. No fundo‚ são fábulas morais‚ contadas com toda a calma e uma fotografia sofisticada. Perfeita pra irritar nossos sentidos acostumados com rapidez‚ pancadaria e explicações supostamente coerentes.
Enfim‚ recomendo.
Mas o que eu queria mesmo ver seria uma série desse tipo‚ só que adaptando textos do Jorge Luis Borges. Será que um dia isso vai acontecer?
Comunidade #
Por enquanto‚ somos três lá na comunidade do Discord. Tenho postado links pra coisas que acho interessantes durante a semana. Se quiser participar‚ apareça lá.
Também pensei em fazer "umalaive" numa noite dessas (Twitch? YouTube?). De repente‚ pra falar rapidamente sobre um tópico e depois conversar via chat‚ responder perguntas sobre tecnologia e essas coisas de que trato por aqui. Interessa? Sim‚ responda aí no e-mail que a gente se arranja.
Escrevi demais‚ né? Até a próxima.
Abraço‚ Eduf
Mais Eduf #
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