Por Eduardo Fernandes.
Agora há pouco, lia uma popular newsletter brasileira. Como de praxe, trazia uma crônica meio melancólica, estetizando o sofrimento da pessoa autora por meio de referências cinematográficas e um tom agridoce. Como estou naquele típico mau-humor de quem dormiu pouco, impliquei o com o texto.
Na minha cabeça rabugenta, começou a surgir uma tese nublada. Sabe aquelas ideias ainda em estado de formação? Você sente seu cheiro, mas nada está definido. Normalmente, ignoro a maioria delas. Mas resolvi jogar essa no ChatGPT, programa hypado de inteligência artificial, e ver o que acontecia. Então, segue-se meu prompt, em inglês, contendo minha proto-ideia.
Write 10 paragraphs in Brazilian Portuguese about how the constant consuming of movies and North American pop culture has developed a new disease, which is a constant melancholy. It seems that people see themselves as characters of a movie and try to attach aesthetics to their own suffering, trying to make it more beautiful, stylish and dramatic.
E o texto do GPT, sem qualquer edição.
O constante consumo de filmes e cultura pop norte-americana tem desenvolvido uma nova doença, que é a melancolia constante. As pessoas se veem como personagens de um filme e tentam atribuir estética ao seu próprio sofrimento, tentando torná-lo mais bonito, estiloso e dramático. Esse fenômeno tem se tornado cada vez mais comum, especialmente entre os jovens, bombardeados diariamente com imagens de sucesso e felicidade na mídia. Eles se comparam a essas imagens e se sentem insatisfeitos com sua própria vida, o que pode levar à depressão e à ansiedade. A busca pelo estilo de vida dos personagens de filmes e séries também tem contribuído para esse problema. As pessoas querem ter a mesma aparência, roupas e acessórios, o que pode levar ao gasto exagerado e ao endividamento. Além disso, essa obsessão pelo aparente "perfeição" pode levar a problemas de autoestima e baixa autoimagem. Outro aspecto preocupante é o fato de que as pessoas estão cada vez mais se isolando em suas próprias bolhas de consumo, perdendo o contato com a realidade e com as outras pessoas ao seu redor. Isso pode levar ao distanciamento social e à falta de conexão emocional com os outros, o que pode agravar ainda mais a melancolia. Para lidar com esse problema, é importante que as pessoas tenham consciência do impacto que o consumo exagerado de mídia pode ter em sua saúde mental. É preciso encontrar um equilíbrio entre o tempo dedicado às atividades virtuais e o tempo gasto em atividades reais e saudáveis, como exercícios físicos, convivência com amigos e familiares e atividades ao ar livre. Além disso, é importante que as pessoas procurem ajuda profissional se sentirem que estão perdendo o controle de suas emoções e comportamentos. Psicólogos e psiquiatras podem ajudar a identificar os sintomas de transtornos mentais e propor tratamentos eficazes. Também é fundamental que haja mais conscientização sobre o impacto da mídia na saúde mental. É preciso que as pessoas saibam que os personagens de filmes e séries são frutos da imaginação e que a vida real nem sempre é tão perfeita.
É certo que o ChatGPT tomou um rumo totalmente diferente do que eu seguiria. E ficou meio CHATinho.
Mas note que a IA herda alguns dos nossos vícios mais perigosos:
- ausência de fontes no texto,
- apontamento de tendências sem muita comprovação,
- mistura de questões relevantes e verdadeiras com diagnósticos e alarmismos que poderiam ser melhor explicados.
Enfim, é a receita perfeita para possíveis fake news e para posts de grupos de "realidade paralela" no WhatsApp.
Muita gente nem perceberia. Seguiria o tom de denúncia e messianismo que muitas vezes imprimo nos meus textos. Isso significa que já posso tirar férias?
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