Por Eduardo Fernandes.
Sigo em Garopaba, SC, até 03 de julho. Depois? Boa pergunta.
Conta-se que Patrul Rinpoche passou por uma região do Tibet e achou o lugar maravilhoso. Percebendo um apego, fez o voto de nunca renascer lá.
Se eu tivesse algum nível de controle sobre “meu futuro”, deveria fazer um voto semelhante sobre Garopaba. Ou melhor: sobre a região do Rosa. Que pedaço incrível de planeta. Até agora, só senti apego semelhante à Sonoma, na Califórnia. Talvez eu seja um surfista latente.
Quando sai sol, preciso juntar certa disciplina para trabalhar e praticar. Algum instinto evolutivo faz com que seja difícil resistir a sair, pisar na areia, olhar as montanhas.
De modo geral, a região fica vazia nessa época, fora da temporada ou feriados. Ferrugem, por exemplo, parece uma cidade fantasma.
Tenho uma certa fascinação em visitar lugares vazios – que cresceu durante a pandemia. É como ser um pré-arqueólogo: ver as criações humanas, sem os criadores por perto, e antes que elas virem ruínas. Deve ser por isso que o único videogame a respeito do qual me interessei no passado foi o Shadow of the Colossus.
Não é uma questão de contemplar o vazio, a ausência. Mas, afastando temporariamente o estilo de caos tipicamente humano, pode-se apreciar a complexidade do resto do cenário.
Engraçado que a palavra “bucólico” tenha ganhado uma conotação de simplicidade, de lentidão. Onde quer que você olhe, há dinâmica, cacofonia. Não importa os adjetivos que imputamos a essas coisas: “bonito”, “feio”, “calmo”, “agitado”. Nossos dualismos são lentos demais para acompanhar o ritmo das coisas.
Estou na região das dunas (perto de Siriú), então há várias casas isoladas, incrustadas no meio das montanhas. Em boa parte delas, só se chega via trilhas.
Parece haver uma clara distinção entre casas de turistas (quadradas, modernas, prontas para o AirBnB) e as que são feitas para quem mora ou realmente tem estômago para uma vida simples por aqui. Algumas nem sequer têm eletricidade. Viver no morro demanda planejamento. É um compromisso. As casas para AirBnB costumam ter estradas e saídas fáceis. Funcionam para uma “desconexão intermitente”.
Garopaba parece uma cidade mais largada – especialmente os espaços públicos e as ruas. Já o Rosa é um universo à parte, bem mais criativo e hippie: a cultura de pequenos negócios e espaços da região parece bem mais criativa. Definitivamente, o potencial de apego da região é alto. Não é, Patrul Rinpoche?
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