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Um Uber para alugar amigos

Por Eduardo Fernandes.

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O que eu tenho a ver com isso, meu?

Outro dia, por acaso, encontrei, um conhecido que não via há 25 anos. Pudera: nesse tempo, ele se tornou milionário, e eu, bem, eu pensei em comprar um “pedacinho” do Nubank.

Para facilitar nossa comunicação, vamos chamar essa pessoa de Buddy Rich. No processo de subir de vida, ele perdeu os amigos. É que, agora, suas diversões são muito caras e os velhos companheiros não têm como acompanhá-lo, a não ser que ele pague a conta.

Naturalmente, Rich desconfia que as pessoas passaram a gostar mais do seu dinheiro do que da sua companhia. Pior: ele não consegue se identificar com os integrantes da sua nova classe social.

Até antes da pandemia, Rich estava tão focado em crescer sua fortuna que não teve tempo de sentir-se solitário. Mas a doença do burn out também viralizou e, enfim, chegou até ele. Só agora, percebeu que vive sozinho num triplex no Rio de Janeiro e que os serviços de streaming não fazem mais efeito.

Provavelmente, eu é que estou desinformado, mas parece que a tecnologia capitalizou um pouco melhor o sexo do que a amizade.

É claro que a situação de Buddy Rich reflete uma crise social e existencial. Ora, a do sexo também. Só que, se a pessoa não pode esperar o desmantelamento do capitalismo e um upgrade na sensibilidade humana, ela pode se virar no Tinder mesmo. Mas qual aplicativo atenderia Rich de modo tão rápido?

Até onde eu sei, no Japão, a prática de alugar um amigo é socialmente aceita há décadas. Lá, provavelmente, já deve existir um Uber para amizades. Se não há, fica a dica: você pede um Friend Black se quiser ir a um restaurante mais sofisticado, um Friend X, se não se importar com o equivalente a um Celta da amizade.

Note como aí está um mercado mal explorado pelas startups. Um bom aplicativo de aluguel de amigos permitiria escolher alguém pelo tipo de conversa: por exemplo, digamos que você esteja com um desejo específico de debater Wittgeinstein num sábado à noite. É só usar a busca (se o filósofo estiver entre as coisas que podem ser definidas pela linguagem).

Esse app seria uma excelente fonte de renda para graduandos de Humanas, além de trazer para o mercado de gig workers toda uma população excluída, como a dos designer gráficos. Imagine sair pelas ruas podendo compartilhar o sofrimento de perceber problemas de kerning.

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E, claro, o mais importante: tudo seria gerenciado por um sistema de pontuação. Quem não se comporta conforme o esperado, perde capital social. Você não gostaria de ter estrelinha e 5.0 no perfil? Ou um bom review, no estilo: “Excelente conversa. Dieta cetogênica”?

Enfim, eu não sabia como resolver o problema de Buddy Rich. As pessoas fazem escolhas e definem prioridades. As consequências surgem. O que fazer? Mas sou um solucionista nato e não suporto decepcionar as pessoas. Então, me saí com essa proposta de aplicativo: uma mistura de Uber, Tinder e iFood. Não é assim que se resolve as coisas hoje em dia?

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