Por Eduardo Fernandes.
Nova série de Adam Curtis tenta explicar o atual sucesso das teorias conspiratórias.
Bom dia.
Estou assistindo ao monumental novo documentário de Adam Curtis, Can't Get You Out of My Head. Monumental porque é dividido em 6 filmes. E também pela quantidade de referências históricas que o diretor tenta costurar.
Curtis quer explicar a popularização das teorias conspiratórias da nossa época. Pra isso, desenvolve ideias que discutiu em filmes anteriores: a construção do individualismo, a desconfiança da política e as consequências inesperadas dos movimentos contraculturais.
Por enquanto, só vi o primeiro episódio. E ele me parece uma continuação de Hipernormalization, de 2016.
Anti-conspiração conspiratória #
Os documentários de Curtis também exploram nosso treinamento contemporâneo pro FOMO. A escolha das trilhas sonoras, a cadência da narração, tudo nos mantém num constante estado de expectativa.
Não é que estejamos exatamente seguindo a lógica de Curtis, mas ficamos nesse estado psicológico de antecipação, de estar ouvindo algo muito importante.
Assim, Curtis não apenas fala sobre teorias conspiratórias. Ele demonstra como é que caímos nesse tipo de armadilha. Há até uma paródia um tanto cruel do método do cineasta.
Mau agouro #
Não é que eu queira cancelar Adam Curtis. Pelo contrário. Até concordo com algumas das suas análises. Mas acho que ele causa (pelo menos em mim) um estado mental que é muito parecido com o que ele critica: a urucubaca fim de mundo. Sabe aquele sentimento de má-sorte, desconfiança geral, degenerescência, de que as coisas estão ruindo, de que não há saída?
De fato, o samsara é caso um perdido. Ainda assim, a urucubaca fim de mundo é um miasma intelectual, porque nos deixa presos nessa interpretação límbica do universo: fugir, cada um por si.
Ou pior: espernear e ignorar, já que não há outra saída. Como naquele momento do filme Matrix Reloaded, quando os humanos estão prestes a ser exterminados por máquinas e, então, armam uma festa de despedida, um superbacanal, antes da batalha suicida.
Isso não pode ser verdade #
O que nos leva a outro documentário, o A Glitch In The Matrix, que trata das chamadas Teorias da Simulação – que propõem que nós vivemos numa falsa realidade, projetada por computadores. Tipo o próprio filme Matrix.
Parece estranho, mas gente bilionária, como Elon Musk, leva a coisa à sério. E também o escritor Philip K. Dick, claro.
Nosso sapiens-demens interior sempre cai nessas armadilhas: "odeio a realidade, ela não pode ser de verdade". "Deve ser uma simulação". "Existe algo por trás disso".
Não é essa a essência das teorias conspiratórias? Ajambrar discursos pra manter narrativas genéricas, sedutoras e engajantes?
Enfim, talvez, o único antídoto pra isso seja o pé no freio. O tédio. O não-engajamento na narrativa. E a desconstrução: desmembrar os assuntos. Não deixa-los agregarem-se pra formar histórias simplistas, de entretenimento urucubaca.
Será que, um dia, ainda seremos "salvos" pelo tédio? Talvez. Mas quem sou eu pra prever essas coisas?
PS – Este texto sobre o Adam Curtis é uma preparação pra um projeto novo / velho que devo começar em breve, com um amigo meu. Já vai.
#MonoEstéreo #
Anticorpos de propaganda #
Já desenvolvemos anticorpos contra banners e anúncios on-line. Mas há um outro tipo de propaganda que não é tão fácil de “imunizar”. Mais aqui.
Mudanças #
Meu tempo anda bem curto. Agora, virei uma espécie de Lego: divido todas as tarefas em minúsculos blocos regulares. Assim, a partir desta semana, também terei que simplificar e dividir a newsletter: nas quartas-feiras, textos como o de hoje. No sábado, só recomendações. Bite-size everything.
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