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A arte de dizer não. E de dizer sim

Por Eduardo Fernandes.

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Alô, espero que você esteja bem.

Sem querer soar a autoajuda, mas já soando, hoje eu queria falar sobre a arte de dizer não.

Talvez, como eu, você também seja do tipo "people pleaser", gente que sempre tenta agradar os outros e evita, a todo custo, estar na posição daquele que frustra expectativas.

Esse hábito pode ser a receita pro desastre.

  1. Primeiro porque acaba nos sobrecarregando de tal forma, que produz a síndrome da rosca espanada, quando você tenta, tenta, mas não consegue mais atender as demandas dos outros. Você perde a responsividade. Acha que ainda entende a comunicação dos outros, mas está muito autocentrado pra sequer assimilar o que lhe foi pedido.

  2. Segundo, porque podemos nos tornar uma bolha de ressentimento e, então, começamos a cobrar taxas pelos nossos “sims”. Fazemos o que a pessoa pede, mas queremos que ela perceba, que agradeça (de certa forma, se humilhe) ou até que sinta culpa por nos torturar com seus pedidos.

Isso deve ser particularmente difícil ao criar filhos - por conta da velocidade de toda situação. Crianças precisam de muitas coisas, constantemente, agora. E, ao mesmo tempo, são extremamente sensíveis pra captar nossas respostas não-verbais e indisponibilidades emocionais. Além do fato de que, hoje em dia, estamos mais conscientes da complexidade do processo de educação, então queremos acertar.

Mas, é claro: não são só pessoas que criam demandas. Aparelhos, processos, gostos pessoais, sites, expectativas, projetos de vida, condicionamentos psicológicos… As fontes de demandas podem ser incrivelmente capciosas, enganadoras, se esconder no meio de coisas que nós achamos que nos trazem felicidade e prazer.

(É por isso que, no budismo, os praticantes são encorajados a conhecer o sofrimento. Em vez de fugir dele, estudá-lo. Porque, geralmente, por ignorância, ao buscar felicidade, acabamos a gerar o contrário dela. Mas quem sou eu pra falar sobre budismo.)

Ginástica pra dizer não #

O fato é que dizer não demanda treinamento. Você diz um, sincera e polidamente, ouve o feedback, experimenta a culpa, tenta relaxar ali no momento. Tenta ser humilde e perceber que, às vezes, simplesmente você não é a pessoa adequada pra dizer aquele sim. Ou, pelo menos, não agora.

A seguir, parte-se pro próximo não. Em tese, as coisas vão ficando mais fáceis e precisas com a repetição.

A parte fundamental é perceber que o mundo não deve acabar depois daquele não. (Mas não me processe, se acabar.)

O sim negativo #

Parece simples, mas é muito difícil confiar nas pessoas. Tentamos manipulá-las o tempo todo com nossos belos esquemas. Pensamos que somos capazes de controlá-las.

Reclamamos dos trackers e algoritmos das redes sociais, mas eles surgiram do nosso velho hábito de tentar captar o que os outros pensam, de oferecer mais do que eles "querem ouvir", de mantê-los distraídos enquanto procuramos a nossa própria satisfação.

Faz parte.

Faz parte.

O que nos leva a arte do sim. Que tipo de sim estamos emitindo? Um estratégico? Manipulador? Ressentido? Irônico? Um que surge só pra fazer o interlocutor nos deixar em paz?

Quando pensamos sobre dizer sim e não, geralmente partimos do ponto de vista de gerenciamento pessoal: "eu tenho tempo e energia pra mais esse compromisso"?

Mas a coisa vai muito além disso: há sims egoístas e nãos altruístas. Há sims políticos, sims parasitas (que geram demanda corrosivas nos outros, ao longo do tempo), sims que são, na verdade, piores que nãos.

Enfim, é um assunto complicado.

Dissolvendo sim e não #

Na minha própria jornada em aprender a me comunicar (e obrigado por fazer parte dela), tenho percebido que, nesses momentos de encruzilhada, na qual sou – aparentemente – chamado a tomar decisões, tenho a ilusão de estar no controle.

Mas, na verdade, tenho mais influência do que controle. Por vezes, acho que digo sim, mas a situação toda acaba em não. Ou a palavra sim sai da minha boca e é ouvida como um não (e vice versa).

Surge um sentimento estranho de flutuar num mar de conexões, às vezes remando, às vezes seguindo a correnteza, às vezes parando pra observar o mar, sentindo seu cheiro, não tendo pressa de chegar a lugar algum, às vezes temendo a tempestade e querendo fugir.

Sim e não rígidos e conspiratórios, talvez, um dia, dêem lugar a estar aberto aos ritmos das conexões.

Mas esse sou só eu querendo parecer esperto. Deixa chegar a próxima mensagem no WhatsApp.


Universo paralelo #

Não uso muito mais redes sociais. (Só o bendito YouTube. Mas já estou desenvolvendo certa imunidade contra ele. Na verdade, estou naquele momento em que surge a coriza, mostrando que o corpo já está enfrentando o vírus.) Então, resolvi fazer um exercício regular de indicar alternativas pra redes sociais que as pessoas usam no cotidiano. Assim…

Se você usa o Twitter, tente: #

https://micro.blog/ - $5 por mês

https://mastodon.social - gratuito

Sobre o YouTube, em breve vou mostrar algo mais prático. Já vai.


Vida depois dos números #

Acho que cometi meu primeiro episódio de ação no Monólogo Estéreo. Chama-se Tipo o Tron. Só que no Excel. Acho que o título é meio autoexplicativo. Quer dizer… Será? E eu nem sabia dessa escorregada de Excel que aconteceu na Inglaterra. Afe.


Método Borges de resenha #

Isso me deu algumas ideias:

Desvario trabalhoso e empobrecedor o de compor vastos livros; o de espraiar em quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que esses livros já existem e propor um resumo, um comentário.

Jorge Luis Borges, Ficções, pg. 11

Hmm. 🤔


Então é isso. Até semana que vem. Ou domingo, pra quem acompanha o podcast.

Ah! Obrigado a todos os novos apoiadores. ❤️

Abraço,

Eduf


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