Site do jornalista e roteirista Eduardo Fernandes

Leia só o título

A interface do Twitter: totalmente otimizada para a leitura robótica. Nesta semana, no MonoEstéreo, argumentei que, ao longo da nossa convivência com as redes sociais, fomos treinados a pensar como web crawlers. Quero aprofundar o assunto um pouco mais. Os web crawlers, também conhecidos como bots ou spiders, são aplicativos criados para reconhecer e classificar rapidamente quantidades massivas de informação na web. Eles resumem e reformatam o material original e exibem o resultado em sistemas de busca, como o Google. Essa é uma explicação simplificada e não-técnica para um processo conhecido como “indexação”. Os web crawlers podem até “ler” o conteúdo visível ao usuário. Mas, especialmente, procuram por metadados, que são informações complementares, fornecidas pelos próprios autores dos conteúdos e/ou pelos sistemas de publicação, como o Wordpress, por exemplo. Chamamos essa prática de SEO (Search Engine Optimization). Os bots cruzam diversos tipos de metadados, entre eles a localização do usuário e as políticas comerciais daquele sistema de busca ou rede social. Assim, o sistema decide o que exibir no resultado de uma determinada busca ou timeline. Também formata o conteúdo…

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Prostitutas da terceira idade

A protagonista do filme, So-Young. Às vezes, me espanto com o tamanho da minha ignorância. Por exemplo, nunca sequer pensei no que acontece com as prostitutas depois dos 60 anos. Simplesmente se aposentam? Recebem auxílio do governo? Obviamente, não. Dependendo do caso… continuam trabalhando. Desse jeito, no genérico, esse já seria um assunto e tanto. Mas o diretor sul-coreano, E J-Yong, faz um corte temático um pouco mais específico em The Bacchus Lady (2016). O filme se baseia num fenômeno relativamente recente, que surgiu na Coréia do Sul, depois da crise econômica na Ásia, em 1997. Sem assistência social ou familiar, muitas mulheres de 50 a até 85 anos tiveram que voltar ao mercado de trabalho. Ex-prostitutas de rua passaram a frequentar praças de Seoul, em busca de clientes, geralmente, na mesma faixa de idade. E, como a prostituição é crime no local, para encobrir suas atividades, as senhoras vendiam uma bebida energética conhecida como Bacchus-F. Daí surgiu o termo “Bacchus Ladies”. As Ladies costumavam cobrar o equivalente a R$ 100 por encontro. E injetavam, diretamente nas veias dos clientes,…

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O mito de origem do Metaverso

O metaverso da Microsoft é um desbunde. É muito difícil contar a história da tecnologia. Sempre somos obrigados a lidar com vestígios, versões desencontradas e documentos duvidosos. Em geral, as ferramentas surgem de modo não linear, obscuro e confuso. Aparecem simultaneamente em diversos lugares, aparentemente, sem conexões entre si. Os criadores procuram por uma coisa, esbarram em outra e nem sempre entendem as consequências do que surge. É por isso que uma das áreas mais interessantes da antropologia é o estudo dos mitos de origem. Eles ajudam a definir um sentido social e político para as gêneses: “a ferramenta foi criada para, é perigoso devido a, decepcionou ou superou as expectativas de”, etc. E onde eu quero chegar? No mito de origem que está surgindo para impulsionar o chamado Metaverso. O Metaverso está cada vez mais em moda. Até mesmo o Facebook mudou de nome para Meta, dizendo que agora esse é o foco da companhia: acelerar nossa entrada no Metaverso — em especial os usuários mais jovens. A Microsoft acabou de anunciar que está na cola, correndo com seus…

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A volta do jabá

Lá vou eu de novo, tentar pegar uma carona na fortuna de Jeff Bezos. Abaixo, uma seleção de livros que li e não necessariamente concordei com o que foi escrito. Ou que gostaria de ler, não necessariamente para gostar. Comprando pelos links abaixo, ou pelo meu link genérico, você me ajuda a pagar as contas, a terapia e a comida da minha dona, a gata Maricota. Borges - Ficções Robert Louis Stevenson - O Elogio Do Ócio E Outros Ensaios Lev Tolstói - A Sonata a Kreutzer Will Eisner - Nova York Fiódor Dostoiévski - O adolescente Fiódor Dostoiévski - Noites brancas: Romance sentimental (Das memórias de um sonhador) Fiódor Dostoiévski - Início e Fim Albert Camus - O estrangeiro (edição de bolso) Franz Kafka - O veredicto / Na colônia penal Aleksandr Púchkin - A dama de espadas: Prosa e poemas Junji Ito - Tomie Volume 1 de 2 Coleção Histórica Marvel: Mestre do Kung Fu Vol. 10 Jason Tércio - Em busca da alma brasileira – biografia de Mário de Andrade Ethan Kross - A voz na sua…

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Pensadores pop e diletantes

[audio src="https://anchor.fm/s/4e33e304/podcast/play/42536658/https%3A%2F%2Fd3ctxlq1ktw2nl.cloudfront.net%2Fstaging%2F2021-9-29%2Faf68bb47-a7ed-9aeb-c0ce-85977f2a47c9.mp3"][/audio] Artigo da New Yorker sobre Peter Thiel.

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O Ramones da sci-fi

Cadeira de praia no espaço. Aparentemente, boa parte da galáxia já assistiu ao novo Duna. Que bom, assim eu não preciso entrar em detalhes sobre toda a obsessiva jornada cultural do livro de Frank Herbert no Ocidente. Haja débito cármico: desde seu lançamento, em 1965, essa história vem gastando dinheiro e massa encefálica de muita gente por aí, de David Lynch a Alejandro Jodorowsky, sem falar em executivos, críticos, fãs, etc. Será que, agora, finalmente exorcizaremos esse espírito obsessor? Claro, a adaptação de Denis Villeneuve é tudo aquilo que, atualmente, se espera de um filme desse tipo: épico e super bem produzido. Mas, num certo momento, você não sabe se está assistindo a Game of Thrones, Foundation, Star Wars ou a qualquer outro. Às vezes, até os atores são os mesmos. Como diria Byung-Chul Han, talvez isso seja resultado da Sociedade do Cansaço. Ou (alguns de nós, privilegiados) estão simplesmente empanturrados de tanto escapismo. De qualquer forma, é certo que Duna reforça uma certa fadiga de obras de sci-fi grandiosas. Não é culpa do livro. Nem do diretor. A culpa…

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Aquela vez em que fiz massagem tântrica

Recentemente, fui convidado a fazer uma sessão de massagem tântrica. Até estou numa fase de alongamento mental, mas só a proposta já me causou quase um estiramento. É que conheço muito pouco sobre o assunto. O suficiente para ter preconceitos: coisa de hippie, corrupção de tradições sérias do Induísmo, ou simplesmente uma masturbação cara. Mas, como não sou um personagem muito coerente, decidi participar da experiência. O que se provou não ser algo tão simples. Por onde começar? Escolhendo a massagista num website. Mas, espere aí. Qual é o critério de seleção? Que qualificações eu tenho para julgar esse tipo de profissional? Perdido na minha ignorância, parti para uma abordagem acadêmica. A terapeuta já publicou na revista Nature? Foi analisada pelos pares, em teste cego duplo? O Karl Popper a aprovaria? Sem muito sucesso, migrei para o critério qualitativo, ou melhor, “curricolotativo”: escolheria aquela que aparentasse ter o maior (ou mais robusto) currículo. Mas todos pareciam estar no mesmo nível. Cansado, num estado de total paralisia de escolha, desisti e deleguei a tarefa para outra pessoa, que acabou selecionando a…

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Barulho sem fim

[audio src="https://anchor.fm/s/4e33e304/podcast/play/42173888/https%3A%2F%2Fd3ctxlq1ktw2nl.cloudfront.net%2Fstaging%2F2021-9-22%2Fc73192c6-1a82-dfc4-ca02-0f252dafa73f.mp3"][/audio]

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O preço da coerência

O Mubi está exibindo Gonzo: a vida e o trabalho de Hunter S. Thompson, de 2008. Há algumas décadas, eu tive alguma dívida cármica com o autor de 'Medo e Delírio em Las Vegas', 'Hell's Angels', clássicos da contracultura jornalística norte-americana dos anos 1970 e 80. Então, resolvi rever o filme e observar o que despertaria no meu atual cérebro mofado. E...? Bem, vamos por partes. Se você não conhece o trabalho de Thompson, uma definição inicial seria: jornalismo etnológico, com aspirações literárias, distorcido e amplificado pelo constante e massivo uso de drogas (especialmente psicodélicas). Por exemplo: se o jornalista se dispõe a cobrir os Hell's Angels, ele vai pessoalmente até a gangue, conquista sua confiança, dirige Harley Davidsons, foge da polícia e enche a cara, junto com o seu objeto de estudo. E vai quebrando os limites: testemunha um gangbang (sexo coletivo), até que as coisas saem do controle e viram violência. Hunter S. Thompson voltava dessas experiências com uma enorme ressaca moral. E a relatava, em primeira pessoa, por meio de uma bravata literária que misturava traços de…

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