Site do jornalista e roteirista Eduardo Fernandes

Jantar de campeões

Dzongsar Khyentse Rinpoche, ou Khyentse Norbu. Ontem, assistindo a uma palestra de Dzongsar Khyentse Rinpoche, lembrei-me de quando jantei com ele, há alguns anos. Mas, antes de contar essa história, vamos para outro jantar. Esse com Roberto Civita o, então, dono da Editora Abril. 2007: eu acabara de pousar na (então) poderosa Abril, como editor do site da Superinteressante. Na época, a revista era um dos maiores sucessos da casa. Civita queria conhecer algumas equipes. E, como havia muita expectativa / apreensão sobre como a Internet mudaria o mercado editorial, disseram que eu não poderia fugir desse jantar. Ok. Amen, Regininha, amen. Assim, eu e mais 6 pessoas fomos para a gigantesca sala de jantar de Civita — parte de um escritório que ocupava um andar inteiro. Na mesa, o desconforto era geral. Não por conta de Civita, que era cordial, com sua voz de baixo-profundo. É que se manifestou o DNA de humildade brasileira diante do colonizador, o adestramento histórico de tentar agradar o patrão. Todos nós travamos, exceto o gente-finésima, Denis Russo Burgierman. Em poucos minutos, o desconforto…

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Tsundoku: a arte de acumular livros

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Perguntar ofende

Minha nova obsessão durante os almoços é assistir a seriados sobre psicólogos. Comecei com Psi, de 2015, que é, mais ou menos, uma extensão da coluna que Contardo Calligaris tinha na Folha de S. Paulo, cheia de opiniões e verve. Vi apenas a primeira temporada, até a HBO Max desaparecer com as outras. Daí, parti para In Treatment, de 2010. Essa é bem mais focada em conversas de consultório. Foi assim que achei minha personagem favorita da última semana: Adele (foto acima). Ah, essas mulheres que fazem as perguntas desestabilizantes. In Treatment acompanha o sofrimento do terapeuta veterano Paul Weston. Deprimido, ele sente que não consegue mais ajudar a si mesmo, os filhos e os pacientes. Ao procurar por prescrições de pílulas para dormir, conhece Adele, que vira sua analista. E aí as coisas ficam interessantes. Adele não deixa uma frase passar despercebida. Paul tenta desqualificá-la e manipulá-la o tempo todo. Mas a terapeuta não perde a calma. Apenas rebate lhe oferecendo mais autoconhecimento. Fato: tenho um certo fetiche por mulheres, como diriam os gaúchos, “faca na bota” (detalhe cômico:…

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Que texto bunda mole!

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O Falo voador de Jeff Bezos

Então é isso: o dono da Amazon, Jeff Bezos, foi para o espaço, ficou cerca de 12 minutos por lá e voltou são e salvo. Pequeno passo para um bilionário, grande para a humanidade. Assim como na chegada da Apolo 11 à Lua, em 20/07/1969, muitos de nós assistimos ao evento por meio de uma tela. Naquela época, no dia seguinte, pela TV. Agora, em “tempo real” e pela Internet. É a primeira vez que eu me sinto realmente financiando uma viagem espacial. Todas aquelas caixas e papéis pardos, de alguma forma, viraram combustível para o projeto de Bezos. Ooook. Definitivamente, a nossa era é bem mais bootstrap do que a da primeira corrida espacial. Não era mais ou menos isso que os punks queriam? Faça você mesmo. No caso, com meu dinheiro. Antes, o astronauta precisava ser um cientista, financiado pelo Estado. Carregava toda a simbologia da Guerra Fria nas suas roupas acolchoadas, herméticas e brancas. Agora são bilionários, com indumentárias coloridas, chapéus de cowboy, financiados coletivamente, via Internet. E, perceba: no caso de Bezos, voando num foguete claramente…

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Paraísos climáticos e jardins digitais

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Os diversos níveis de negacionismo

"Abra os olhos, Morty!" É. A coisa está feia nos EUA. Ondas de calor, problemas no fornecimento de energia, entre outras notícias alarmantes sobre o aquecimento global. Tanto que já se fala sobre migração em massa para paraísos climáticos, regiões com melhores condições naturais para hospedar humanos na crise ambiental. E como adaptar uma cidade para, de repente, receber milhares de desempregados e desapropriados? Foi mais ou menos o que a jornalista Amanda Shendruk, da Quartz, tentou imaginar. Ela descreve um local futurista, mas realista — se é que você me entende. Entretanto, para variar, meu assunto aqui é outro. A ideia é falar sobre negacionismo. Ou melhor, negacionismos. Há apenas alguns anos, alguns de nós ainda tentávamos dizer que o aquecimento global era uma besteira. Hoje, chegamos nas conversas acima. Existe um ponto de mutação, quando não há mais como negar um problema. Assim como foi com a COVID-19 no começo de 2020. Boom: de repente, o mundo mudou. Choque ontológico. Porém, ainda assim, é claro, os negacionistas continuam existindo. Por isso, é importante investigar os poderes destruidores de…

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Imaginando cidades do futuro

Welcome to Leeside, the US’s first climate haven É um artigo ficcional, de uma pesquisadora e jornalista, endereçando problemas que os EUA já enfrentam em cidades reais. Soube no podcast Today, Explained, Where to go when the world burns.

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Tente consertar tudo, pense que tudo está quebrado

Outro dia, tentei assistir à série Pretend It's a City, que Martin Scorsese fez com Fran Lebowitz sobre — claro — Nova Iorque. Até onde conheço, a carreira da comediante é centrada nisso mesmo: reclamar sobre os desafios de viver naquela cidade. Não é que o trabalho seja ruim. Mas aguentei apenas um episódio, até me cansar do estilo blast beat, 400 palavras por segundo, de Lebowitz. Num certo momento, eu só conseguia reparar na energia incessante que fluía dela. As palavras começaram meio que a se dissipar. Tipo aquela professora do Charlie Brown: "quó quó quó, quó quó quó". Uma ex-namorada me dizia que eu sou uma espécie de Obelix do LSD (ou seja, não preciso usar a substância, devo ter caído num tonel dela quando criança). Talvez, isso explique minha experiência psicodélica sóbria com a série. Mas, enfim. O que eu queria saber mesmo é quando (e como) começou esse apreço cultural pela verborragia resmungona. Voltaire, talvez? Certamente, Seinfeld é um momento importante na popularização do estilo. De qualquer forma, a prática é particularmente associada ao stand-up comedy.

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