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Sucesso pode ser o começo do fracasso

Por Eduardo Fernandes.

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Mexeram com meu brinquedo de estimação, o Youtube-dl. 😡

/* explicação técnica */

É uma ferramenta de linha de comando que permite baixar (e converter) vídeos do YouTube. Uso diariamente, assim como muitos jornalistas, em várias partes do mundo.

A RIAA, entidade protetora de copyright norte-americana, pressionou o GitHub pra tirar o repositório do ar.

Minutos depois, os arquivos reapareceram em inúmeros outros locais. Um desenvolvedor até criou um script que republica o repositório automaticamente, a cada X minutos.

/* fim da explicação técnica, voltamos à programação normal. /*

Corta pros famosos "strikes de copyright" do YouTube.

É o terror dos YouTubers. Deveriam até usar como fantasia no próximo Halloween. Os algorítimos vasculham e censuram os vídeos que, supostamente, usam material proprietário sem permissão. Três strikes e o produtor de conteúdo perde seu canal, podendo até mesmo ser impedido de criar outro.

O mais interessante é que alguns YouTubers já usam os strikes como arma pra derrubar os concorrentes e/ou opositores. Depois de Street Fighter, temos Strike Fight.

Também é comum você começar a assistir a um vídeo-ensaio e, de repente, o som e a imagem somem, censurados pela polícia algoritimica – que não é exatamente precisa. Isso sem mencionar as interrupções dos anúncios.

Enfim, como em muitas outras situações da vida, o sucesso é o começo do fracasso. A popularidade monolítica do YouTube começa a trazer mais e mais obstáculos pra criatividade e profundidade dos vídeos publicados na plataforma.

E a cobra morde o próprio rabo: buscávamos a liberdade do YouTube, depois o sucesso e agora, aos poucos, voltamos à vigilância e (auto)censura.

Além disso, o desejo pelo "crescimento do canal" leva à prisão da popularidade: cancelamento, copyright strikes, padronização estilística (cabeças falantes), esgotamento de ter que produzir material constantemente etc.

Não é tão absurdo imaginar que começamos assistir aos primeiros indícios de decadência do YouTube. Mas não só dele: também de um certo estilo de comunicação, aquele baseado na Indústria Cultural do século 20.

Há algumas décadas, a chamada cultura pop só fala sobre si mesma, tem nostalgia do seu próprio passado, explora suas próprias mitologias. Pode levar algum tempo, mas esse modelo parece estar degradando.

Algumas forças parecem questiona-lo:

  1. A diversidade cultural (negros, grupos não-norte-americanos e europeus, não-héteros encontrando suas próprias formas de produzir cultura).

  2. A diversidade de nichos tecnológicos (exemplo: celebridades de TikTok influenciando umas às outras).

  3. O COVID-19, levando os artistas a serem financiados mais diretamente pelo seu público.

  4. A truculência da Indústria Cultural, tentando salvar seus negócios tradicionais, incitando as empresas de tecnologia a irritar seu público. Em especial, ao querer censurar em massa via algoritmos, sem analisar o uso de material proprietário caso a caso.

Na época do rádio e da TV, a Indústria Cultural conseguia – mais ou menos – controlar o consumo de cultura, ao ponto de até conseguir hackea-la (vide a série "A História Secreta do Pop Brasileiro").

Mas, agora, está cada vez mais difícil: influenciadores já não influenciam como antes, anúncios são menos clicados e vistos, discos não vendem tanto, não podemos assistir a mega shows, artistas conseguem se virar por si mesmos… De novo, tudo o que é sólido se desmancha no ar.

Aos poucos, desenvolvemos mais anticorpos culturais.

Ainda assim, praticamente nem esbarramos na questão principal, que é o desejo de crescer, do "sucesso". Em outras palavras, quando esquecemos do prazer da experimentação, da comunicação, da troca e nos focamos em reprodução, periodicidade, formato, métricas e manipulação.

Nesse caso, cedo ou tarde, naturalmente, teremos que agir como o YouTube. Teremos que derrubar ferramentas, teremos que distribuir strikes. Precisaremos sair da área da criação e entrar na área policial.

Faz sentido pra você ou estou delirando?


Ouvindo #

Enquanto o YouTube ainda permite, revisito o Jack Nitzsche. Nada a ver como filósofo alemão de nome parecido. Jack andava com gente mais, digamos, desafiadora, como Phil Spector. Ficou conhecido por compor inúmeras trilhas sonoras pra filmes. Mas minha parte preferida do seu catálogo é a que contém guitarras barítono, misturadas com arranjos orquestrais, tipo The Lonely Surfer, The Last Race e Not For Me. Até as baladas românticas têm um tom meio filme de terror das antigas.


Podcast: ligação do universo paralelo #

Outubro de 2020: cientistas do Large Hadron Collider, na Suíça, anunciam que, ao criar mini-buracos-negros em laboratório, conseguiram fazer contato com universos paralelos. Fevereiro de 2021: Apple Lança o iPhone 23 Parallels Pro, o primeiro celular com 400 câmeras… e que também faz ligações extra-universais. Deu nisso.


É isso por hoje. Obrigado por ler.

Abraço,

Eduf


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