Quando a esmola é demais
Uma das minhas ambiguidades de estimação é a crença / descrença na generosidade. Tento acreditar nela, tento praticá-la, mas a verdade é que sempre fico desconfiado. Se alguém me oferece algo, a primeira reação é a Checagem Larry David: Por um lado, estamos vivos graças a redes de generosidade incessantes. Dos nossos pais até pessoas que mal conhecemos nas ruas, sempre tem alguém ajudando de alguma forma. É difícil de perceber, mas vivemos cercados dessa generosidade biodegradável, "nunca te vi, nunca mais te verei, mas serei bacana contigo por um minuto". Há quem acredite até que, em catástrofes, nossa primeira reação é colaborar, não migrar para o estado de natureza hobbesiano. Porém, como tantas outras coisas, a generosidade tem um problema de escala: vai ficando ameaçada conforme custa mais e se prolonga ao longo do tempo. E aí surgem os custos não combinados. Como você bem sabe, há quem pratique generosidade para (consciente ou inconscientemente) escravizar os outros, mantê-los sob controle, criar um séquito de admiradores, para sentir-se superior, para calibrar a autoestima, etc. Relações baseadas em generosidade tóxica costumam…
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