Site do jornalista e roteirista Eduardo Fernandes

Afinal, quem pode jogar?

A menos que eu esteja alucinando, lembro-me de uma estranha moda que surgiu em 2023: a de imitar personagens não jogáveis de videogames. Ou melhor, os Non Playable Characters (NPC).

Isso foi entre a moda dos NFTs e da IA, lembra? Ou será que entre AC e DC? Ou INSS e IOF? Está difícil de acompanhar tantas siglas passando pela tela.

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Previsões improváveis

Nostradamus, previsivelmente, a imagem deste post.

Se eu fosse um profissional sério, começaria o ano com previsões previsíveis pra 2024. Mas como sou apenas mais um doido de internet, posso me dar ao luxo de publicar algumas hipóteses furadas. Pelo menos, não vou ter que admitir que errei, no fim do ano. E segue o baile.

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A volta dos portais independentes

Mais uma vez, o Substack está na moda, graças à sua tolerância à extrema-direita na plataforma. Esse é um assunto que vou deixar pra pessoas mais qualificadas analisarem. No entanto, me ocorreu uma possível solução pra fugir das plataformas: reativar as cooperativas de autores, que tínhamos nos anos 2000. Ou seja, sites como o Gardenal.org, Exquisite e O'Esquema. Ou até mesmo a velha Fraude.org (que era outro modelo de publicação). Basicamente, os autores se juntavam, compravam um espaço num servidor, instalavam um CMS e se dividiam nas tarefas de cuidar da comunidade. Pensando nas tecnologias disponíveis em 2023, esse modelo poderia ser algo assim: Bônus: E por aí vai. É uma ideia que merece um novo teste. Ou, melhor, perguntar pro pessoal que manteve esse tipo de coop no passado quais foram os desafios e motivos pelos quais os serviços foram encerrados. Estou meio velho e sem tempo pra começar algo assim, mas vale pensar sobre o assunto. Um nome oficialesco pra isso poderia ser: Cooperativa Brasileira de Newsletters. Cobran. :D Seria a volta da fragmentação da publicação na Internet.

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Guerra civil da atenção

Cena do filme Sick of Myself. Preciso incluir mais um item na minha lista de hipóteses em busca de comprovações científicas. Esse: Nada a ver com pessoas procurando seguidores nas redes sociais. Essa tese aí é chutar HD morto. Já sabemos como a coisa funciona. Ainda assim, tem a ver. A convivência diária com as redes sociais e tecnologias móveis ajudou a descalibrar a nossa expectativa de quanta atenção deveríamos receber. E quão rapidamente. Parece que temos uma expectativa um tanto rígida de como as pessoas devem se importar com nossas opiniões, estados mentais e chiliques. É que, ao longo dos anos, fomos nos acostumando a ter algum tipo de feedback rápido, muitas vezes até imediato, pras “nossas aventuras mentais”. E, agora, a tolerância à indiferença (ou à demora pra receber atenção) cresceu pra níveis não muito realistas. De novo, não estou falando de etiqueta de WhatsApp -- ainda que esse seja um assunto relacionado. A ansiedade nos programas de mensagem é um sintoma da necessidade de estar no centro das atenções. Mas também ajudou a treinar nossas expectativas. Ainda…

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Os países da aviação

Adèle Exarchopoulos ensina os procedimentos de segurança do avião. Toda vez que preciso fazer viagens internacionais, me pergunto o que pode atrair uma pessoa a trabalhar em companhias aéreas. Que tipo de personalidade e história de vida leva alguém a querer viver em aviões, aeroportos, dutty-free e seus infindáveis Toblerones? Além de enfrentar constantes mudanças de fuso-horário, escalas de trabalho, etc.? Vontade de conhecer outros países? Desejo de fugir do seu? Tentativa de ter uma vida mais fluida e relacionamentos mais soltos? Sei lá. Ainda não assisti a um bom documentário sobre os bastidores de companhias aéreas. Um que mostrasse a rotina das tripulações, sem nenhum glamour. Mas o filme belga Zero Fucks Given (Bem-vindo à Bordo), de 2021, dá uma ideia. Acompanhamos a rotina de uma comissária de bordo, vivida por Adèle Exarchopoulos. É a atriz perfeita pra esse papel, já que ela tem uma presença linear, meio seca, que contrasta com sua aparência extremamente atraente. O filme mostra que, aparentemente, existe uma sociedade paralela das companhias aéreas. É um ambiente competitivo e tenso, no qual os funcionários se toleram. E…

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A personalidade monopolista

Parece que o Google foi condenado mais uma vez por ações monopolistas. Mas, não se preocupe, não vou te torturar com esse assunto. Só que, ao ler sobre ele, me surgiu outra pergunta: existe uma dimensão psicológica dos monopólios? Explico. Monopólio surge quando um único fornecedor controla um segmento de mercado. E tenta evitar que surjam alternativas ou escondê-las do consumidor. É uma prática que precisa de ajustes contínuos, já que sempre está ameaçada por novas circunstâncias. Em sua essência, o monopólio revela o medo da diversidade e a crença ingênua na centralização. Se isso existe num nível institucional, também existe no nível individual. Talvez a situação mais parecida seja a do Transtorno de Personalidade Histriônica. A pessoa que sofre disso tenta monopolizar atenção. O que pode se manifestar dos modos mais estranhos. Exemplos: Da hora que acorda até pegar no sono, a pessoa não cala a boca, resmunga em voz alta o tempo todo, derruba coisas pela casa, faz barulhos com a louça, bate portas, invade o banheiro antes que você termine de usá-lo, come o alimento que você separou pro outro…

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Paranoias de viagem

Estou quase com os pés no aeroporto de novo. E o processo de preparação da viagem é engraçado. Você passa a vida inteira tentando viver no presente. Quando precisa pensar no futuro, procrastina. Deveria existir um gênero de literatura dedicado às preparações de jornadas. Aquilo que acontece logo antes do herói se jogar na estrada. As expectativas, as projeções, os contatos com pessoas que já foram. Enfim, as pré-roubadas, as espectrais roubadas de antecipação. Hoje, existem tantas informações conflitantes sobre tudo, que me tornei uma espécie de leitor estatístico. Antes de comprar qualquer coisa, dou uma passadinha no Reclame Aqui. Nas lojas digitais, comparo reviews e tento detectar quais são encomendadas, parciais ou desinformadas. Tento ver se há algo suspeito nas URLs. E os tropeços culturais já começam antes de sair de casa. Por exemplo, ao pagar uma taxa, fiquei desconfiado do endereço “.gob”. Até me lembrar que governo em espanhol é “gobierno”. Também é comum enfrentar alguma geotecnologia, geologia da tecnologia. Numa mesma tarde, você precisa usar sites e aplicativos que parecem existir em épocas diferentes da Internet. Os padrões…

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O imperialismo da série Andor

Cena de Andor, série do universo de Star Wars. Já faz algum tempo que venho desenvolvendo uma certa má-vontade com a cultura nerd. Joguei pouquíssimos games. Nunca fui fã de super-heróis. Até costumava gostar de sci-fi realmente mindfuck. Mas não consigo mais me conectar com conteúdo pop. Não é totalmente preconceito. Meio que desencanei dele. Talvez pela onipresença do gênero. Por isso, estranhei quando um amigo próximo me recomendou ver Andor. É uma série de 2022, derivada de Star Wars. Eu tinha certeza de que desistiria logo no primeiro episódio. Mas continuei. Não exatamente pela história, mas pelo figurino e design em geral. Boquiaberto com o detalhismo das roupas e da arquitetura, aos poucos, meu tempo foi vazando pra série. Como era de se esperar, Andor é mais um Conteúdo Gerador de Cortisol (CGC), com mistério, perseguições, medo, etc. O objetivo é sentir o quão pesado, paranoico e sufocante é viver sob um Império. Ou melhor, sob uma ditadura militar. E é por isso que resolvi comentar a série aqui. É que, no geral, Star Wars tem uma visão muito limitada do que pode ser um Império.

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Outras tecnologias interessantes

A YouTuber alemã Laura Kampf, uma geek de ferramentas e reaproveitamento de materiais. Semana passada, eu estava escrevendo algo sobre IA. De repente, uma tempestade tomou a Serra Gaúcha. A luz caiu. Quer dizer, a luz que vem dos cabos. Porque, fora de casa, foram horas e horas de raios cortando as nuvens, sem parar. Nunca vi nada igual. Geralmente, relâmpagos duram poucos minutos. Dessa vez, a coisa foi longe. Imediatamente, perdi meu raciocínio sobre a IA. A chuva mostrou quem manda. Lá estava eu, de volta ao século retrasado. Hmm. Na verdade, não é bem assim. Mesmo que isolado do mundo digital, eu estava cercado de tecnologias: casa, janelas, isolamento térmico, etc. Essas são inovações consideradas desinteressantes por boa parte dos geeks. Melhor pensar sobre projetos espaciais dos bilionários ou sobre como a IA vai bater nossas carteiras. Esse assunto me veio à mente por conta de alguns artigos tentando redefinir o debate sobre mudanças climáticas. Em vez de apenas focar nos perigos iminentes, deveríamos mergulhar nas reduções de danos e sobrevivência. Basicamente, a ideia é nos tornarmos geeks sobre o planeta e…

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Você fala a língua das celebridades?

O jornalista Chris Anderson, da Wired. Em 2024, vai fazer 20 anos que Chris Anderson publicou seu primeiro artigo sobre Cauda Longa. Naquela época, o jornalista da Wired imaginou que o consumo seria cada vez mais nichado e menos concentrado em produtos massificados. Mas o que aconteceu foi um fenômeno muito mais estranho: a tal Cauda Longa deu ainda mais força pra cultura de massas. Explico: Por um lado, há uma maior diversificação de produtos e ideias. Há mais gente emitindo opiniões e formando comunidades em torno de si. Por outro, a lógica da cultura de massas se tornou o sistema operacional dos nichos. Ou seja, ainda aplicamos técnicas como: Uma comparação entre os dois modelos de cultura de massas seria algo assim: Nos dois modelos, é necessário se associar a uma corporação – no caso de Mr. Beast, o Google. A fórmula por trás dos negócios ainda é parecida. Na verdade, um pouco pela piada, vou chamar isso de LLMC, Large Language Model Celebrista. É um conjunto de informações e comportamentos com os quais fomos treinados ao longo do século 20,…

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